O mês horribilis de Sócrates. Ficar sem pai e irmão em 15 dias.
António de Sousa, o irmão mais novo do ex-primeiro-ministro, morreu ontem no hospital Juan Canalejo, na Corunha, onde aguardava um transplante pulmonar de um dador compatível. Era a segunda vez que António de Sousa, de 49 anos, se iria submeter à operação. Em 2008, já vítima de fibrose quística, tinha feito um transplante.
O irmão de Sócrates morre 15 dias depois do pai, Fernando Pinto de Sousa, de 84 anos, ter falecido na sequência de um traumatismo craniano provocado por uma queda. No funeral, que decorreu em Vilar de Maçada a 20 de Julho, o filho mais novo do arquitecto Fernando Pinto de Sousa já não esteve presente: encontrava-se já em estado muito grave internado no hospital onde ontem veio a morrer. Sócrates perde o único irmão que lhe restava - a irmã Ana Maria, também mais nova do que o ex-primeiro-ministro, tinha morrido em 1988.
Um mês horribilis no plano pessoal: Sócrates e o irmão eram extremamente próximos. Com o pai, o ex-primeiro-ministro tinha vivido parte da adolescência, depois do fim do casamento entre o arquitecto Pinto de Sousa e Adelaide de Sousa, a mãe. O agravamento do estado de saúde de António de Sousa fez com que o irmão tenha passado os últimos tempos na Coruña, para o acompanhar.
António de Sousa chegou a trabalhar como assessor no Instituto das Drogas e da Toxicodependência, dirigido pelo médico João Goulão.
Em 2009, um ano depois de já ter sido transplantado com um pulmão de um jovem de 14 anos, o irmão de Sócrates foi ao programa da manhã de Fátima Lopes, na SIC, e defendeu a criação de uma associação de apoio a doentes com fibrose pulmonar. "Não morri porque não era a minha hora", disse António de Sousa no programa, lembrando o drama com que o irmão e a mãe acompanharam o transplante, temor agravado por terem perdido Ana Maria há 20 anos. António contou ainda como continuou a trabalhar e a ir às aulas, com a ajuda de uma garrafa de oxigénio, com autonomia de quatro horas. Disse que "as listas de espera dos transplantes são invioláveis no mundo inteiro" e prometeu que, juntamente com Sandra Campos, que também foi transplantada no Hospital da Corunha, formar uma associação para doentes com fibrose pulmonar.
José Sócrates e António passavam várias vezes as férias juntos. No início do primeiro mandato, o gabinete do primeiro-ministro chegou a distribuir à imprensa fotografias de umas férias no Brasil de José Sócrates, onde também se encontrava António.
A tragédia pessoal atira para a irrelevância a derrota pessoal que foi o último ano do mandato.
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