Buraco colossal
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O SILÊNCIO À VOLTA DA MEMÓRIA


Em “relação às contas na Suíça, julgo que o assunto está mais do que esclarecido.
Há para lá umas contas na Suíça, há para lá umas pessoas que têm contas na Suíça.
O engenheiro José Sócrates – o que se demonstra com as contas na Suíça – é que não tem nada a ver com as contas na Suíça”
João Araújo 29/05/2015


Á ESQUINA DO MONTE CARLO


HERBERTO, A AVENTURA nos eternos

- Este blog voltou ao activo hoje dia 10 de Junho de 2015. -

E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.

Camões / Lusiadas


Isto não há nada como acenar com medalhinhas para ter sempre clientela.

Biografia de José sócrates




Memórias I. Da entrevista concedida à autora, José Sócrates fez questão de falar sobre muitos dos seus sentimentos em relação aos primeiros anos de vida e de revelar pormenores desconhecidos sobre como brincava e se dava com as outras crianças



"A INFÂNCIA
"
"O parto decorreu normalmente e o Zezito nasceu bem.
 Eram dez e meia da noite de uma sexta-feira, 6 de Setembro de 1957. 

Fernando e Adelaide não formalizaram o nascimento do rapaz ali, na freguesia de Miragaia. Esperaram pelo regresso a Trás-os-Montes para registar o bebé como natural da freguesia de Vilar de Maçada, no concelho de Alijó, distrito de Vila Real, com o nome de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa. 

«José Sócrates foi o nome por mim escolhido», esclarece o pai, «e com o que a minha ex-mulher esteve de acordo. José, nome de meu pai. 
Sócrates, apesar de não ter nenhuma raiz familiar, foi ideia minha por me vir à lembrança o filósofo grego por quem nutria alguma admiração através da leitura de testemunhos que a figura deste filósofo representa de racionalidade e humanismo. Ainda houve alguma objecção por parte do conservador do registo civil na 
aceitação do nome, por não ser usual, mas que foi superada.»


O pai de José Sócrates era o filho mais novo de José Pinto de Sousa, homem bem remediado, com casa no Largo da Fonte, junto do tanque comunitário de Vilar de Maçada, onde as mulheres mais velhas, ainda coçam a roupa na pedra de granito, em pleno Inverno, puxando a espuma ao sabão. O avô paterno de Sócrates dava-se à encadernação, ao cerimonial das festas religiosas e ao cuidado dos mortos. A antiga capela da casa era a sua oficina e armazém. Aplicava os dias a forrar livros ou a construir molduras de madeira, feitas e decoradas pelas suas mãos. Quando se aproximavam as festividades da vila, ou as romarias das populações em volta, dedicava-se mais aos andores. De alfinetes na mão, enfeitava-os com o esmero e o saber de muitos anos. Os cetins de cor iam ganhando uma ondulação minuciosa. A cada saliência minúscula seguia-se uma depressão feita pelo alfinete 
que cravava o tecido ao chão do estrado. (...)


Quando alguém morria, em Vilar de Maçada, era José Pinto quem tratava de dar ao finado a dignidade necessária na despedida deste mundo. Muitas vezes, saíam das suas mãos uma espécie de mocassins, feitos de papel escuro, para calçar os pés dos defuntos. Gente que, em vida, só conhecera a pedra arrefecida e o esboroado do chão, chegados à sola do pé e que, só depois de morta, recebia os primeiros e únicos sapatos. José Pinto aproveitava os tecidos mais cansados, usados nos andores em tempo de festa, os mais descorados e marcados pelas 
muitas alfinetadas, para revestir os caixões.


A música era outra das facetas do avô de José Sócrates. 
«O meu pai tocava guitarra com expressão e virtuosismo, o que me incutiu o gosto pela música. Chegámos a formar um conjunto: violino, guitarra, viola, bandolim e flauta, tocando música nos serões de Inverno ou serenatas nas noites quentes de Verão.» Fernando Pinto de Sousa tocava o violino e recorda com prazer esses tempos vividos com os irmãos em Vilar de Maçada. Ainda tentou contagiar José Sócrates com o seu gosto pela música mas a semente não germinou. Sócrates teve aulas de piano no conservatório da Covilhã, dos quatro até aos oito anos. «Era um martírio», recorda o político, «a professora Regina batia-nos nos dedos, mas nunca tive uma grande inclinação para a música. Os meus filhos adoram 
música. O Zé Miguel toca viola e o mais novo toca bateria.»
(...) José Sócrates já só via o avô nas férias e nas festas. A família mudara-se para a Covilhã em Maio de 1958, tinha Sócrates oito meses. Fernando Pinto de Sousa arrendara casa e abrira o seu atelier de arquitectura no centro da cidade. Apesar da arquitectura ser a sua actividade principal, Fernando nunca se desligou do ensino, pelo qual tinha grande gosto. (...) A cidade aproximou também Fernando Pinto de Sousa de outras das suas paixões - o cinema, a música, a poesia, a filosofia, a simpatia pela vida de figuras históricas, disciplinas para as quais tentou cativar os filhos. Cinco anos depois de José Sócrates, nasceu o seu irmão mais novo, António José. A família já tinha carro e deslocava-se com regularidade a Vilar de Maçada. Na aldeia «os meus filhos brincavam à vontade, sem o perigo automóvel, com os primos e outros meninos no jogo da bola ou a andar de bicicleta», recorda Fernando Pinto de Sousa. «Acompanhavam-me também na festa anual, no largo do adro, durante o arraial, em visita às barracas de brinquedos, jogos e outras festividades. Não dispensávamos os banhos nos açudes do rio Pinhão, ponte de Parada ou ponte de Monim, durante o Verão. Deslocávamo-nos com frequência a Vila Real para fazer compras e tomar qualquer coisa nas excelentes pastelarias da cidade, sobretudo na mais que centenária Gomes, na avenida Carvalho Araújo.»
Os quatro dias de festa do Senhor Jesus da Capelinha eram os mais aguardados em Vilar de Maçada. Reuniam os da terra. Aos que lá viviam, juntavam-se, nesses dias, os que haviam saído para outros pontos do país ou para o estrangeiro. (...) Na aldeia, José Sócrates passava o tempo entretido com os primos de roda dos Dinky Toys que carregava da Covilhã, os famosos brinquedos criados na década de 30 e cuja produção apareceu, quase ao mesmo tempo, em Inglaterra e em França. António, Fernando, José e Carlos, filhos da tia Helena, encantavam-se com aquelas miniaturas de automóveis, perfeitas, apetrechadas com pneus de borracha de verdade e os pára-lamas cromados, a cintilar. Eram tardes de êxtase, em frente de casa, que arrumavam a noção das horas a um canto. Um bando de miúdos de costas dobradas e joelhos no chão, engenheiros da brincadeira, construindo estradas, estudando a localização e os materiais das pontes e dos túneis, os motores a trabalhar, os guinchos dos travões e os roncos dos aceleradores, num ofício de lábios, gargantas e línguas.
(...) Os passos de José Sócrates ainda hoje o conduzem para a ponte de Parada, se vai à vila. Desce o caminho, em corrida, até ao sítio predilecto dos meninos de Vilar de Maçada. De vez em quando, o povo vê-o a passar para lá, mas só quem o conhece bem se atreve a acenar-lhe ou a cumprimentá-lo. Os outros inibem-se, acanham-se. A intimidade da terra com o pequeno Zezito é tão forte quanto a distância e a estranheza da vila em relação ao homem que chefia o governo do país. Como se Zezito e José Sócrates habitassem dimensões diferentes. Sócrates continua, porém, a regressar a Trás-os-Montes, convocado pelas memórias e pelos afectos, essa «coisa», como diz o político, verificada pelo tempo, que se aquartela na pele e «não sai». «Eu sempre tive dificuldade em responder a essa pergunta - de onde és? - mas a minha resposta intuitiva é sempre Vilar de Maçada, porque isso é o que está no meu bilhete de identidade e porque fui habituado a pensar assim», descreve o socialista. «A minha aldeia é a minha terra, é a dos meus pais. Nunca vivi lá mas era a terra dos meus pais. Nós passamos uma parte da vida a não gostar de "ir à terra". Também me aconteceu e, a partir aí dos trinta anos comecei a gostar de ir lá e agora "obrigo" os meus filhos também a irem a Vilar de Maçada. Às vezes contra a vontade deles, porque acho que eles gostarão de saber de onde vêm. (...)


"A DECISÃO POLÍTICA"
Memórias II.

 O momento em que decidiu avançar para a candidatura ao cargo de secretário-geral do PS foi precedido de um retiro nas terras onde passou a infância e adolescência e de uma importante conversa com o pai. Para o primeiro-ministro, o segredo da sua vitória política passava muito pelo momento certo da decisão
"É sexta-feira, 9 de Julho de 2004.
José Sócrates está a caminho de Vilar de Maçada para assistir às festas do Senhor Jesus da Capelinha. Precisa de uma pausa e gosta da quietude do lugar. A quatro horas de Lisboa, a vila é um refúgio atraente e um local perfeito de reflexão em tempo de tanto desassossego. Concede a José Sócrates o afastamento necessário para se centrar no essencial e o isolamento suficiente para decifrar, de forma clara, todos os sinais que, as próximas horas, ou os dias imediatos, lhe irão trazer, amplificando o discernimento entre o importante e o acessório. A experiência já lhe demonstrou que, não raras vezes, a política se enfia por atalhos e que, nessas ocasiões, é indicado saber conjugar na perfeição lucidez e ponderação com capacidade de reagir em cima dos acontecimentos, influenciando-os. A concentração é uma aliada valiosa para pressentir o momento certo. Antecipar-se ou atrasar-se, em relação a esse instante, não o distinguir limpidamente, pode fazer a diferença entre o político de sucesso e o falhado, entre o político influente e o inofensivo.
«Este não é o momento certo!», responde amiúde, repelindo as perguntas às quais entende não ser ainda a altura de revelar o seu entendimento. Está para lá da simples fuga à interpelação incómoda ou do puro cálculo político. Para José Sócrates é a busca do momento perfeito, irrepreensível. O socialista aprendeu que «o tempo é essencial em política» e, se encontra um propósito, a frase solta-se-lhe, como se exercitasse o pensamento em voz alta. «Um dos segredos mais importantes da política é escolhermos nós o momento», esclarece Sócrates. «Se se perguntar a um general o que é estratégia, ele dirá que é escolher o sítio e o momento para lutar. Um político também tem que ter essa ideia de ser ele a escolher o momento e não de ser o momento a escolhê-lo.» José Sócrates é um homem inesperadamente sereno, quando descansa das batalhas. Põe uma voz baixa e amena. Mas o mais pequeno estímulo pode endurecer-lhe o tom e ampliar-lhe a vibração. «Não há tempos ideais e aqueles que esperam pelos momentos ideais nunca farão nada. Estou farto de ver políticos sempre à espera do momento ideal e esse momento ideal não existe.
O mais importante é escolhermos o nosso momento e não nos deixarmos levar pela coisa.» A subida de tom serve para colocar certeza nos seus argumentos e paixão na sua defesa, depois torna a apaziguar-se para revelar: «O segredo é o ataque», diz, depositando as palavras, uma a uma. «O segredo é a iniciativa. O que é a liderança? Liderança é antecipação, é iniciativa. O general Foch costumava dizer: a minha direita progride, a minha esquerda avança, está tudo bem, estou ao ataque.» As mãos, em cima da mesa, acompanham-lhe o raciocínio. Desfaz o gesto e conclui: «Iniciativa.» Outro exemplo chega-lhe de repente: «O Lord Nelson também dizia que atacar pode ser um erro. Mas é um erro do lado certo. O mais importante na política é ter iniciativa e para termos iniciativa temos que escolher o nosso tempo, o nosso momento. Podemos cometer erros, mas devemos ser nós a comandar o tempo e não condicionarmos o nosso movimento ao movimento do parceiro, sermos os primeiros a movermo-nos.»
José Sócrates já estivera em Vilar de Maçada na Páscoa de 2004, com o pai e os dois filhos. Nos primeiros dias de Abril, o socialista descansara e reflectira sobre o momento que o seu partido vivia.
A direcção fragilizada de Ferro Rodrigues e o incentivo que vinha recebendo de alguns camaradas para que ponderasse apresentar-se como alternativa de liderança, bailavam-lhe na cabeça. Nessas férias confidenciou o assunto ao pai: «(…) houve entre nós uma troca de impressões. Da minha parte manifestei-lhe a minha concordância quanto à candidatura para secretário-geral do PS, uma vez que ele reunia todas as condições para o ser.» Porém, Fernando Pinto de Sousa fez também ver ao filho o pesado fardo que tal decisão poderia acarretar: «(...) como secretário-geral, surgiria a grande probabilidade da sua eleição a primeiro-ministro, hipótese, a meu ver, quase certa. Neste sentido não deixei de lhe transmitir as dificuldades do cargo, por ter presente o que sucedera a Sá Carneiro e outros altos governantes, sempre hostilizados nas suas importantes decisões. Permaneceu ali (Vilar de Maçada), então, cerca de duas semanas, e decidiu-se pela candidatura.»
Esse propósito continuaria, no entanto, em estado de maturação interior, impartilhável e sem termo de validade. O curso político guiaria o silêncio de José Sócrates e dir-lhe-ia quando materializar a decisão ou, até, se ela se concretizaria.
socrates_bio

Com Sócrates um melhor futuro para todos os Portugueses!

Jose sócrates é a resposta determinada e corajosa que a todos deve inspirar.Defender Portugal é defender a Liberdade colectiva!