Buraco colossal
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O SILÊNCIO À VOLTA DA MEMÓRIA


Em “relação às contas na Suíça, julgo que o assunto está mais do que esclarecido.
Há para lá umas contas na Suíça, há para lá umas pessoas que têm contas na Suíça.
O engenheiro José Sócrates – o que se demonstra com as contas na Suíça – é que não tem nada a ver com as contas na Suíça”
João Araújo 29/05/2015


Á ESQUINA DO MONTE CARLO


HERBERTO, A AVENTURA nos eternos

- Este blog voltou ao activo hoje dia 10 de Junho de 2015. -

E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.

Camões / Lusiadas


Isto não há nada como acenar com medalhinhas para ter sempre clientela.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Banco de Portugal com poderes reforçados

Banco de Portugal com poderes reforçados
31 de Dezembro, 2010Fotografia por Helena Garcia
O Banco de Portugal (BdP) vai passar a poder definir quais as regras aplicáveis aos «grandes riscos» das instituições financeiras, de acordo com um decreto-lei publicado em Diário da República.O documento, que produz efeitos à data de hoje, transpõe para a legislação portuguesa directivas europeias que visam reforçar a estabilidade do sistema financeiro.
«Este reforço é fundamental para lidar com situações de concentração excessiva de posições de risco em relação a um único cliente ou grupo de clientes ligados entre si, que podem resultar em risco excessivo», refere o decreto-lei.
Esta concentração excessiva poderia conduzir a perdas que poriam em risco a estabilidade da instituição financeira.
As medidas introduzidas por este decreto-lei destinam-se ainda a criar novas regras de reconhecimento das agências de rating, bem como tornar mais transparentes as actividades dos bancos estrangeiros.
A partir de hoje, as sucursais estrangeiras em Portugal cuja quota de mercado exceda os 2 por cento e que assumam uma dimensão e importância significativa em termos de números de clientes passam a ter obrigações de informação acrescidas.
O diploma mexe ainda nas regras do mercado da titularização de créditos - um produto financeiro complexo que agrupa vários tipos de dívida (empréstimos para a habitação, cartões de crédito, entre outros) e a vende a investidores.
De acordo com o decreto-lei, para garantir que o mercado das titularizações é transparente e os riscos são devidamente partilhados, as instituições que compram estes produtos passam a ficar expostas ao risco de crédito, ou seja, ao risco de o devedor não pagar o valor em dívida, se a instituição que vende o produto ficar com cinco por cento para si.

Sol/Lusa

Capoulas acusa Cavaco de "maquiavelismo político"




Capoulas acusa Cavaco de "maquiavelismo político" pelas críticas à CGD

16h27m

O vice-presidente da Comissão Política do PS, Capoulas Santos, acusou Cavaco Silva de "maquiavelismo político" por "lançar na lama o prestígio profissional" da administração da CGD para "fugir a questões incómodas" sobre o BPN.
 
foto RODRIGO CABRITA/GLOBAL IMAGENS
Capoulas acusa Cavaco de "maquiavelismo político" pelas críticas à CGD
Cavaco Silva e Manuel Alegre no último debate presidencial
 
"Eu acho que em política, mesmo em campanha eleitoral, não pode valer tudo e o expediente de que o professor Cavaco Silva se socorreu para introduzir o BPN na campanha é um acto de puro maquiavelismo político", argumentou.
O dirigente socialista Luís Capoulas Santos falava à Agência Lusa a propósito da polémica criada com a declaração de Cavaco Silva no último debate televisivo com Manuel Alegre.
O candidato e actual presidente da República disse estar surpreendido com a incapacidade da actual administração em recuperar o BPN, gerido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) desde 2008, e fez uma comparação com os bancos ingleses.
Capoulas Santos lembrou que, "quando estourou o escândalo" do BPN, "envolvendo pessoas próximas" de Cavaco Silva, este, para não se pronunciar, "sempre se escudou no facto de se tratar de algo que estava a ser investigado pela justiça".
"Agora, quando confrontado com a incomodidade do assunto, fez uma fuga para a frente lamentável", traduzida em "lançar na lama o prestígio profissional da administração da CGD que, por acaso é presidida por um seu antigo ministro e, ao que julgo saber, membro da sua comissão de honra da candidatura", criticou.
Segundo Capoulas Santos, Cavaco Silva procurou "desviar o assunto", ao lançar "esta suspeição sobre quem está a tentar fazer quase o impossível", o que é "eticamente reprovável e incompatível com a atitude de isenção e a atitude ética que é exigível" a um chefe de Estado.
O vice-presidente do PS considerou "absolutamente lamentável" que Cavaco Silva não olhe "a meios para atingir fins". "Penso que se trata de um expediente para evitar ser confrontado com aquilo que é verdadeiramente incómodo para ele", insistiu o dirigente do PS.
E o que é incómodo, disse, é "o silêncio a que se remeteu" Cavaco Silva, "durante meses, quando estavam em causa as poupanças de milhares de cidadãos incautos que as confiaram ao BPN, porventura confortados com as pessoas que o dirigiam e até com a sua proximidade" ao presidente da República.
O "expediente", acrescentou, serve ainda "para não explicar aquele incidente que, sobre ele, foi lançando", em relação à "forma como comprou e como vendeu, de forma aparentemente pouco ortodoxa, ações da sociedade que era detentora do banco".


Cavaco atira-se a ex-ministro por causa de ex-ministros



A história dava o início de um óptimo filme. Oliveira Costa, ex-secretário de Estado de CavacoSilva, e Dias Loureiro, ex-ministro de Cavaco Silva, viram-se envolvidos num escândalo num banco. Um banco onde Cavaco Silva tinha acções. Ora, este ex-secretário de Estado e este ex-ministro de Cavaco Silva acabaram constituídos arguidos por causa do banco, que foi nacionalizado - e, até agora, levou com ele 5 mil milhões aos contribuintes.

Com a nacionalização, promulgada por Cavaco, este banco ficou sob alçada da Caixa Geral de Depósitos, banco liderado por Faria de Oliveira, ex-ministro de Cavaco Silva. Não só isso, mas Faria de Oliveira faz também parte da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco. Lado a lado com Norberto Rosa, também ex-secretário de Estado de Cavaco Silva, e também hoje na CGD.

Anteontem este enredo começou a entrar em fricção. Cavaco, cansado de ser criticado ("atacado", na sua opinião) decidiu atirar a batata quente para Faria de Oliveira. Restou ao presidente da CGD passar a batata quente para o governo (ver em baixo), governo esse que já antes tinha passado a batata quente à administração da Caixa: "Compete à administração da CGD defender a sua honra", disseSilva Pereira, ministro da Presidência.

Independentemente destas voltas e de todos os "exs" de Cavaco, certo é que o ano que está aí à porta vai trazer mudanças significativas a este dossiê. Primeiro porque o executivo vai ter de dar um destino ao BPN - nem que seja deitá-lo ao lixo - e depois porque ficou claro que nem Francisco Bandeira (presidente do BPN indicado pela CGD), nem Faria de Oliveira têm condições para continuar nos respectivos cargos - o primeiro já falou ontem numa "nova e autónoma administração" para o BPN e o segundo já desde o Verão que é apontado como "de saída".

Por saber fica se o acordo PS/PSD - um gestor de cada partido no Banco de Portugal e na CGD - sobreviverá. F. P. C.


PSD chama ministra para explicar supostas promoções

A ministra do Trabalho, Helena André, vai ter de dar explicações sobre as portarias que alteram as chefias da Segurança Social
O líder parlamentar do PSD, Miguel Macedo, manifestou esta sexta-feira "muita estranheza" relativamente às alterações nas chefias da Segurança Social aprovadas pelo Governo e anunciou que vai chamar...

Governo acusa PR de "branquear" ex-gestores do BPN

Governo acusa PR de "branquear" ex-gestores do BPN

por EVA CABRAL, com D.D.Hoje
Ministro da Presidência ataca "acusações graves" de Cavaco à gestão actual do BPN. E 'forçou' reacção do banco público.
O caso BPN acaba de contaminar a campanha eleitoral e as relações entre o Executivo de José Sócrates e Belém. Depois de, no último debate de pré-campanha, o actual Presidente da República ter feito duras críticas à gestão da instituição bancária nomeada pelo Governo, Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência, devolveu em tom idêntico - dizendo que não vai permitir "o branqueamento da responsabilidade da anterior administração do BPN".
No final do Conselho de Ministros de ontem, Silva Pereira disse que "foi feita uma acusação muito grave à actual administração da CGD, porque é ela a actual responsável pela gestão do BPN". Não foi precisamente isso, porque Cavaco referia-se aos responsáveis directos pela administração do BPN, ou seja, a Francisco Bandeira. Mas o ministro deixou claro que esperava uma resposta "da administração da CGD", liderada por Faria de Oliveira, ex-ministro de Cavaco, para "defender a sua honra". Acrescentando: "E eu espero que o faça, porque os contribuintes não podem ficar com essa dúvida."
Essa resposta veio, de facto, mas várias horas depois, já depois das 20.30. Num comunicado também duro, a administração do banco público diz considerar "injustas" as críticas do Presidente, explicando que se disponibilizou à Presidência para prestar "toda a informação" sobre a gestão do BPN, que diz "demonstrativa de que a gestão foi correcta, adequada, rigorosa e eficaz" face não só à situação "de falência técnica" do banco, da economia, mas também "às orientações do accionista" Estado.
Ao início da tarde, as palavras de Pedro Silva Pereira eram mais azedas para Cavaco. Dizendo mesmo que "o Governo não permitirá em circunstância alguma é que se procure branquear as responsabilidades da anterior gestão criminosa do BPN, assim considerada pelo Ministério Público e assim em julgamento nos tribunais".
Pouco depois, o presidente do BPN, Francisco Bandeira, admitia à Lusa ter ficado surpreso com as declarações de Cavaco, considerando que algumas afirmações são "ligeiras" e feitas "em contexto de campanha eleitoral".
Francisco Bandeira disse estar "surpreso com as afirmações proferidas pelo candidato presidencial professor Cavaco Silva", que, num debate televisivo de campanha, responsabilizou a actual administração do banco nacionalizado por não ter conseguido recuperar a instituição.
Depois de Cavaco Silva ter dito que tinha ficado surpreendido "que esta administração do BPN não tenha conseguido fazer aquilo que fizeram as administrações em Inglaterra", Francisco Bandeira, também vice-presidente da CGD - e que gere o BPN desde 2008 -, adiantou que a "a comparação do BPN aos bancos ingleses só terá sido possível, porque ligeira, em contexto de campanha".
Fora do contexto da campanha eleitoral, disse ainda Francisco Bandeira, "o candidato a presidente da República não poderia deixar de convir que o Conselho de Administração do BPN encontrou um banco com insuficiências de capitais próprios e um nível de imparidades muito superiores à realidade conhecida" à data da nacionalização. com D. D.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Freeport ilegalidades, diz Ministério Público

Investigadores do Freeport

 cometeram ilegalidades, diz Ministério Público

Paula Torres de Carvalho
Os inspectores da PJ cometeram ilegalidades na investigação do Freeport e os procuradores violaram o dever de zelo, diz o inspector do Ministério Público. Cândida Almeida terá processo autónomo.

Cavaco vai gastar 2,12 milhões de euros em campanha

Cavaco vai gastar 2,12 milhões de euros em campanha

por LusaOntem
Cavaco vai gastar 2,12 milhões de euros em campanha
Cavaco Silva arranca segunda-feira para a 'volta' da campanha para as eleições presidenciais. Já garantidas estão três semanas de "muito trabalho", numa campanha que tem um orçamento de 2,12 milhões de euros, valor que corresponde a menos de metade do que é permitido por lei e que é "significativamente menos" do que foi gasto nas presidenciais de 2006.

 
No percurso está contemplada a passagem pelas regiões autónomas e por todos os distritos do país ao longo de 19 dias.
Segundo o director de campanha de Cavaco Silva, Luís Palha, sem contabilizar as viagens de avião, a caravana irá percorrer mais de cinco mil quilómetros para cumprir o que caracterizou como "um programa muito cheio", onde não haverá "um momento de descanso".
A 'volta' terá início na segunda-feira de manhã no Funchal e termina dia 21 no Coliseu de Lisboa, com um dos dois únicos grandes comícios da campanha para as presidenciais de 23 de janeiro. Num briefing com os jornalistas, Luís Palha sublinhou que a intenção é "cobrir todo o país, como é vontade do candidato", começando precisamente pelas regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

Cavaco promulgou Orçamento do Estado

Cavaco promulgou Orçamento do Estado
30 de Dezembro, 2010
O Presidente da República promulgou hoje o Orçamento do Estado para 2011, aprovado no Parlamento em finais de novembro com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD e o voto contra do CDS-PP, BE, PCP e PEVA informação foi adiantada à Lusa por uma fonte de Belém.
Na votação final global, que decorreu depois de várias semanas da discussão na especialidade da proposta do Governo, os quatro deputados do PSD/Madeira acabaram também por votar contra o Orçamento, violando a disciplina de voto da bancada social-democrata, que se absteve na sequência de um acordo com o Governo.
Na votação participaram 227 deputados, menos três do que o número total de eleitos, com a ausência de um deputado do PS, um do PSD e um do CDS.
Antes da aprovação final global, foram vários os apelos de Cavaco Silva para que a negociação do Orçamento entre os partidos se desenvolvesse com «bons resultados», tendo em conta «a situação complexa em que o pais se encontra».
A 29 de Outubro, depois da rutura das negociações entre o Governo e o PSD, Cavaco Silva convocou mesmo o Conselho de Estado, o órgão político de consulta do Presidente da República, e numa declaração no final da reunião reiterou que a «muito grave»situação financeira do país não se «compadece com atitudes que levem a uma crise política» e requer um «esforço adicional»para um entendimento sobre o Orçamento.
As negociações acabariam por ser retomadas e nesse mesmo dia, às 23h19, o ministro das Finanças e Eduardo Catroga, que chefiou a equipa negocial do PSD, assinaram o Protocolo de Entendimento sobre o Orçamento, um momento que apenas foi registado pelo câmara do telemóvel do social-democrata.
Seguiram-se depois longas discussões na especialidade, com a oposição a apresentar mais de 1.100 propostas de alteração, conseguindo que algumas delas acabassem por ser viabilizadas.
No encerramento do debate parlamentar do Orçamento do Estado, a oposição de esquerda foi unânime nas críticas ao documento, com o BE a antecipar mesmo a queda do Governo e novas eleições em 2011 e o PCP a falar em «descalabro nacional» por se tratar de um Orçamento que «vai conduzir à recessão, ao aumento do desemprego, da precariedade e da pobreza».
Alinhando nas críticas ao executivo socialista, o CDS-PP responsabilizou o Governo por ter colocado o país na «situação de vulnerabilidade em que se encontra», lamentando a ausência de «uma marca de crescimento económico no documento» e notando que o passado do Governo «não dá garantias quanto à sua execução».
Admitindo que, depois do acordo com o PSD o documento é«melhor», o PSD procurou, contudo, responsabilizar o Governo pela sua execução, considerando que o executivo de José Sócrates«não pode voltar a falhar» na execução das medidas.
«É da exclusiva responsabilidade do Governo executar este Orçamento e cumprir tudo o que se comprometeu com o PSD no acordo celebrado e também que se comprometeu com o país. Ninguém tolerará mais falhanços. Senhor primeiro-ministro, o seu Governo não pode voltar a falhar», disseram os sociais-democratas momentos antes do aprovação final global do documento no Parlamento.


Lusa / SOL

Caixa-Geral de Depósitos critica Cavaco

Caixa-Geral de Depósitos critica Cavaco
30 de Dezembro, 2010
A Caixa-Geral de Depósitos revela-se «surpresa» pelas críticas de Cavaco ao BPN nacionalizado e diz que as declarações «só são possíveis em contexto de campanha eleitoral e certamente devem-se a deficiente informação»Francisco Bandeira, vice-presidente da CGD à frente do BPN, diz-se em comunicado «surpreso com as afirmações ontem proferidas pelo candidato presidencial professor Cavaco Silva», que comparou a situação do BPN à de vários bancos ingleses intervencionados, responsabilizando a CGD pela situação do BPN.
Bandeira considera que «a comparação do BPN aos bancos ingleses só terá sido possível, porque ligeira, em contexto de campanha eleitoral e certamente dever-se-á ao facto de deficiente informação pois não são comparáveis as situações que levaram à crise dos bancos ingleses e as que originaram a nacionalização do BPN».
Esta quinta-feira, o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira também criticou Cavaco, acusando-o de «tentar branquear» a«gestão criminosa» de Oliveira e Costa no BPN.
Cavaco respondia ao candidato presidencial Manuel Alegre, que recordava que figuras-chave da anterior gestão do BPN, a braços com processos judiciais, apoiam a recandidatura do actual Presidente.
O caso BPN está definitivamente colocado na agenda da campanha para as presidenciais de Janeiro.

SOL

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cavaco acusa administração do BPN pelo falhanço da recuperação

A divisão ideológica dos candidatos foi bem visível


http://www.publico.pt


O ainda Presidente da República e recandidato usou mesmo o caso de Inglaterra para questionar em directo na RTP a actuação da administração do BPN já quase no final do último frente-a-frente eleitoral, moderado por Judite de Sousa, que o opôs ao Manuel Alegre na RTP1.

Foi o mais político dos frente-a-frente desta campanha e aquele em que a linha divisória do posicionamento ideológico dos dois candidatos foi mais visível. E foi aquele em que quer Cavaco quer Alegre surpreenderam. Cavaco pela agressividade. Uma táctica de debate que procurou inverter a atitude defensiva e autojustificativa que adoptou face aos outros candidatos. De forma paternalista acusou Alegre de mentir e de não estar informado.

Já Alegre surpreendeu pela forma elegante com que ignorou a crispação de Cavaco e como nunca se irritou.

 E apenas foi dizendo que Cavaco lidava mal com as críticas e com opiniões políticas diferentes. 
O único momento em que Alegre usou a acusação directa a Cavaco foi quando levantou o caso das escutas que considerou ter posto em causa o regular funcionamento das instituições e que o Presidente na sua opinião, nunca esclareceu. 


Aqui Cavaco ignorou o ataque e apenas disse que Alegre estava mal informado.

A divisória ideológica entre os dois principais candidatos foi a marca do mais político do ciclo de debates. 

E foi chamada à colação por Alegre ao assumir-se como senhor de uma “visão mais aberta” e “progressista” e ao lembrar as posições de Cavaco contra leis de costumes como a da despenalização do aborto, da procriação medicamente assistida e a do divórcio.

Esta divisão manifestou-se depois no papel do Estado e do Presidente face aos mercados e à crise económica – em que Alegre defendeu a necessidade de o Presidente ser uma voz activa de defesa dos interesses de Portugal e em que sustentou ainda a necessidade de que sejam revistas as soluções para a crise pelos dirigentes políticos da Europa já que se trata de um problema político. Cavaco explicou que a posição do Presidente em matéria de política externa tem que ser coordenada com o Governo. E insistindo na tese de que os responsáveis portugueses não podem afrontar os “credores”, as “companhias de seguros, fundos de pensões e bancos” de quem o país depende.

Mas a grande divisória foi estabelecida em torno do Estado Social. 

Ainda que tenha tentado passar a imagem de que é defensor do Estado Social, Cavaco não conseguiu com clareza fazer a defesa do Estado Social e deixou-se encostar ao assistencialismo liberal. Não conseguiu responder às acusações de Alegre que o colaram a um projecto para “esvaziar os direitos sociais”. 
Assim como se limitou a insistir na defesa de um sistema nacional de saúde sem assumir se é a favor da sua universalidade e da gratuitidade, como fez Alegre.

E irritou-se mesmo quando Alegre o colou a soluções assistencialistas de combate à pobreza que põem em causa e tem como fim “esvaziar” os serviços públicos. Numa alusão a uma iniciativa de distribuição das sobras dos restaurantes pelos necessitados que foi apoiada e lançada por Cavaco.

Pacheco Pereira: 2011 será semelhante ao pós-II Guerra

Pacheco Pereira: 2011 será semelhante ao pós-II Guerra

por Lusa

Hoje
O social-democrata Pacheco Pereira afirmou esta noite, no Porto, que 2011 será um ano em que os portugueses irão perder nível de vida semelhante ao período pós-II Guerra Mundial.
"Em bom rigor, penso que em 2011 as pessoas vão perder, não todas, nível de vida como ninguém vivo conheceu, a não ser talvez depois da II Guerra Mundial", sublinhou o deputado, à margem da cerimónia de entrega do Prémio Clube Literário do Porto 2010 a Vasco Graça Moura.
O social democrata acredita mesmo que "no próximo ano os portugueses vão conhecer provavelmente a mais dura e abrupta queda de nível de vida que as gerações vivas jamais conheceram".
Para Pacheco Pereira, "todas as decisões políticas que forem acertadas são cruciais para a crise do ano de 2011", que "não é meramente económica e financeira, é também política". "Vivemos a crise política já há bastante tempo. Mesmo que, por milagre, se conseguisse melhorar a nossa situação económica e financeira, a continuar assim teríamos todas as condições para que do ponto de vista político se continuasse a agravar essa crise", referiu.

PGR processa Cândida Almeida e magistrados do Freeport

O Procurador-Geral da República (PGR), em plena quadra natalícia, instaurou processos disciplinares a toda a equipa de investigação do caso Freeport. Motivo: não foram capazes de prever que iriam prejudicar gravemente a imagem de isenção e independência de Pinto Monteiro, ao incluírem no despacho final do inquérito as 27 perguntas que, por falta de tempo, não puderam ser enviadas a Sócrates e por este respondidas.A decisão foi tomada na semana passada. Pinto Monteiro instaurou um processo disciplinar aos procuradores Paes Faria e Vítor Magalhães, que conduziram a investigação no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e abriu um inquérito à actuação da directora, Cândida Almeida. Além disso, enviou para a Polícia Judiciária uma queixa disciplinar contra Maria Alice Fernandes (directora da PJ de Setúbal) e todos os demais inspectores que fizeram parte da equipa que esta coordenou.
Recorde-se que, em finais de Julho passado, e na sequência da polémica então levantada em torno do despacho e das perguntas a Sócrates, o PGR nomeou um inspector do Ministério Público, Domingos Sá, para realizar um inquérito à forma como se desenrolou a investigação do Freeport e à actuação dos magistrados e dos elementos da Polícia Judiciária. Domingos Sá entregou o relatório final na semana passada, nele propondo ao PGR a conversão do inquérito em processos disciplinares.
Invocando tratar-se de assunto urgente - e evitando, assim, submeter o caso à apreciação do Conselho Superior do Ministério Público (MP), como é habitual acontecer -, o PGR aceitou a proposta do inspector, validando as suas conclusões.
O processo a Cândida Almeida foi autonomizado em relação ao de Paes Faria e Vítor Magalhães, pois, segundo o estatuto do MP, terá de ser conduzido por um magistrado com mais anos de serviço do que a directora do DCIAP. Em relação a Magalhães e Paes Faria, o processo disciplinar será conduzido por Domingos Sá. Já a conduta dos elementos da PJ - entre os quais estão inspectores que efectuaram apenas algumas diligências, limitando-se a cumprir ordens superiores - será apreciada pelos órgãos disciplinares desta Polícia. Segundo o SOL apurou, nesta parte estará em causa o tempo, considerado excessivo, que a PJ levou nas suas diligências.
Mas o cerne da acusação aos procuradores e à directora do DCIAP são as famosas 27 perguntas a Sócrates. Paes Faria e Vítor Magalhães, com conhecimento e acordo de Cândida Almeida, tinham decidido que só avançariam para um pedido de inquirição de José Sócrates após terem na mão uma série de informações e perícias. Em Maio, um empresário que se constituiu assistente no processo fez um pedido de aceleração processual, que precipitou tudo.


paula.azevedo@sol.pt
felicia.cabrita@sol.pt

Juiz recusa destruir escutas de Sócrates

Juiz recusa destruir escutas de Sócrates
29 de Dezembro, 2010Por Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita
Arguidos e assistentes do Face Oculta notificados para dizer se querem ter acesso às cópias agora surgidas. (actualizada)As cópias agora encontradas das conversas telefónicas entre José Sócrates e Armando Vara vão permanecer no processo Face Oculta e a ordem de destruição enviada esta semana pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) não vai ser tão cedo executada.
O juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução e Acção Penal - onde o processo está agora para realizar a fase de instrução -, notificou os arguidos e os assistentes no processo para se pronunciarem sobre estas gravações, e só depois decicidirá se as destrói ou não.
O SOL, que na semana passada revelou que as escutas a Sócrates não estão todas destruídas, sabe que o advogado Ricardo Sá Fernandes - que representa Paulo Penedos - requereu a consulta dessas escutas que ainda estão intactas.


paula.azevedo@sol.pt
felicia.cabrita@sol.pt

domingo, 26 de dezembro de 2010

oi- quando um cardeal dá recados politicos mete.se em politica e já cristo disse : a césar o que é de césar; a deus o que é de deus.mal vai o tempo :- cardeal josé policarpo.

Acho que o PSD não tem pressa em ser poder"

por JOÃO CÉU E SILVAHoje
D. José Policarpo foi nomeado cardeal por João Paulo II a 21 de Janeiro de 2001

É impossível não nos surpreendermos com a clareza e os dados que o patriarca põe na mesa quando faz a análise política do País. Doseia algum humor perante a crise, como se só desse modo pudesse perdoar os descaminhos da finança, da economia e do endividamento externo. Apelida de "simpáticas" as conversas com Sócrates, mas não aprecia as medidas do Governo contra a Igreja.

A Igreja portuguesa está quase como o Governo. Até os ministros de Deus disparam críticas e opiniões políticas contrárias. Porquê
A Igreja é uma entidade muito plural e repartida na sua responsabilidade, mais do que a sociedade. Basta lembrar que as dioceses são autónomas e as paróquias são pessoas jurídicas independentes. Se isto é uma vantagem, porque não repousa sobre uma mesma pessoa jurídica, também poderá dar a quem vê de fora uma ideia de grande dispersão.
Que é contrária aos princípios da Igreja?
A unidade é a nossa busca principal, mas não pode ser o anular da diferença e da margem de autenticidade que as pessoas individuais e jurídicas têm de se exprimir. A unidade na doutrina é possível nas grandes atitudes frente à sociedade e para isso é que existe a conferência episcopal. No entanto, não tenho visto nada que pusesse em questão essa busca da unidade na pluralidade da diferença. Pode haver sensibilidades neste tomar de posições em relação à política e à sociedade, mas todos estão de acordo que não é missão da Igreja meter-se directamente na questão política a não ser num caso muito extraordinário.
Como o Papa já referiu?
O Papa acaba de admitir que sim, que em situações-limite a Igreja pode tomar posições políticas. Mas não tem sido essa a nossa prática, a não ser em situações muito concretas ou particularmente exigentes em que essas sensibilidades podem ter expressão. Não vi nada que quebre esta unidade fundamental, embora, com toda a franqueza, haja declarações públicas [de religiosos ] que eu não faria.
Acha que a Igreja não deve ter certas posições?
O princípio geral é de que não se deve meter na política, mesmo que tenhamos uma dificuldade em definir que âmbito é esse. Quando falo que a Igreja deve ser isenta e discreta nas questões políticas, refiro-me à política directa e às decisões do Governo. É evidente que, às vezes, nos apetecia falar como cidadãos...
O que tem acontecido com declarações suas!
... Mas como instituição, temos de a preservar. Até porque o nosso campo é outro, mesmo que nos bastidores apanhemos as consequências das políticas concretas. O político é mais vasto do que isto e diz respeito a todo o bem da sociedade. É nesse sentido mais global que, aí sim, temos uma palavra a dizer, na medida em que somos uma voz e temos um auditório numeroso que espera pela nossa palavra e orientação. Quando há uma tomada de posição mais acutilante sobre política concreta, temos um conjunto de vozes a aplaudir-nos e outro a denunciar- -nos. Por isso, é preciso uma grande isenção, que só se consegue tendo sempre muito em conta qual é o objectivo da nossa missão.
Já o Concílio Vaticano II pedia aos católicos para terem mais intervenção na sociedade.
A isenção política não é uma imposição do poder civil, é uma opção nossa para salvaguardar a especificidade da nossa missão. Se nos metemos na política directa, temos de sofrer as consequências dos que estão na política directa e não podemos reivindicar impunidade.
A Igreja não está impune, mas os políticos estão. É isso que quer dizer?
Não deviam estar nem estão. Não podemos é metê-los na cadeia cada vez que fazem erros, até porque para isso há punição em democracia.
Nos casos de pedofilia, muitos dos padres que pecaram tiveram penalização. O mesmo deveria acontecer aos políticos?
Esse é um outro tema para onde os holofotes apontaram todos. São casos tristes para nós - bastava um para termos muita pena -, porque é uma coisa muito feia. Mas, em termos globais estatísticos, os casos são apenas de 0,0 não sei quanto por cento. Talvez este sofrimento por que a Igreja tem passado, e eu compreendo que a sociedade se indigne porque se havia alguma entidade de que não se devia esperar uma coisa dessas era da Igreja, alerte a sociedade como um todo para a erradicarmos com uma política de família e de educação.
O actual Papa foi quem pagou pelos casos que aconteceram no pontificado de João Paulo II. Escapará a essa marca?
Reagiu com muita firmeza e, em certos casos, até nos surpreendeu, chamando as coisas pelos nomes, propondo regras muito rígidas e revendo, como está a acontecer, a própria legislação canónica das penas canónicas em relação a certos casos. O Papa tinha um velho conhecimento dos problemas e dos dossiers que passavam pela sua mão e alertava os episcopados. Esta questão é muito delicada e tão fora da nossa expectativa imediata que demorou algum tempo até os episcopados tomarem consciência dessa realidade.
Porquê?
Primeiro, pela delicadeza do assunto, que não é para remexer em público. Segundo, porque a única maneira de se ter conhecimento é pela denúncia das vítimas, o que por ser tão humilhante muitas vezes não queriam ser reconhecidas. Foi a brutalidade das revelações feitas sobretudo nos Estados Unidos que levou o resto do mundo a alertar-se para isso e ainda bem! Se esta mazela existe na Igreja, temos de a curar.
Como é que Portugal passou tão ao lado?
Não há casos que eu conheça - não quer dizer que não haja um ou outro - e penso que essa situação tem que ver com vários factores. O principal é haver um cuidado grande na selecção e na formação dos jovens padres e na detecção numa fase da juventude da vida do jovem daquilo que são fragilidades, e ajudá-las a corrigir. Depois, é uma qualidade básica do nosso povo respeitar as crianças. Eu temo é que esta publicidade suscite casos, porque, espontaneamente, não está na maneira de ser do nosso povo essa atitude. Qualquer português fica derretido diante do olhar de uma criança! Não excluo que porventura haja casos que tenham acontecido ou que ainda venham a revelar-se pois o pecado existe em todo o lado, mas por enquanto estamos isentos dessa vergonha.
Não receia que a WikiLeaks revele estes casos?
Não sei que telegramas é que o embaixador dos Estados Unidos mandou para lá! Eles informam tudo, desde a cor da gravata até ao cinema a que se foi.
O encobrimento da pedofilia no tempo de João Paulo II não vai obstar à canonização?
Não me pronuncio sobre isso. As únicas coisas que sei é o que diz este Papa, de resto não tenho nenhuma notícia. Tenho de reconhecer que, na hierarquia da Igreja, a primeira reacção foi a de evitar o escândalo. Isso reconheço que houve em geral, a começar no próprio Papa João Paulo II. O que estava errado nos casos que aconteceram foi não ter tirado esse sacerdote de qualquer contacto pastoral, mas deslocá-lo para outro lugar e voltar a repetir-se no segundo local.
Normalmente é a Igreja que pede sacrifícios. Agora, o Governo ultrapassa essa doutrina religiosa com a exigência económica. Sente o peso da "concorrência" do Governo?
Não, a Igreja não pede sacrifícios da mesma maneira porque não há conversão sem austeridade e sem exigência interior. Sou um observador atento - e tenho também mais meios de observação que o comum dos cidadãos - e o que se passa é que ainda estou perplexo pelo juízo global do que se está a passar. Penso que hoje há uma componente internacional que é muito complicada ,e como o mundo é uma aldeia até vemos Portugal ir vender títulos da sua dívida à China.
O que se passa com a economia portuguesa?
Na leitura que faço dos factos, penso que houve um momento em que se separou demasiadamente a relação estruturada durante décadas entre mundo financeiro e o económico, e a finança funcionava como um apoio e potenciador da economia. Dentro deste processo, há um momento em que o valor das moedas que eram caucionadas pelo ouro deixa de ser uma garantia do valor da moeda e passou a depender da saúde das economias. Esta autonomização da finança em si mesma como meio de ganhar dinheiro, e ao mesmo tempo com a oferta imensa, fez com que fosse impressionante o volume de dinheiro que passou a circular no mundo nos últimos anos.
É uma questão económica apenas?
Também tem que ver com a democracia, porque os partidos que estão no poder precisam de mostrar a obra feita e recorreram a esses mecanismos que dentro de uma normalidade regulada ia funcionando. Há um momento em que uma das peças do puzzle se escangalha e fica tudo de pernas para o ar. Eu não tinha noção de que Portugal pagava por dia um balúrdio ao estrangeiro por dever tanto dinheiro! O que me leva a crer que há também uma crise de sistema.
Do sistema capitalista em si?
Do sistema económico-liberal com que o mundo se organizou. Não significa que vá acabar, até porque não há alternativas experimentadas ou estudadas. O modelo totalitário também se desfez como um baralho de cartas e os que o defendem são os saudosistas de uma época. Há que inventar novas formas, mas, sobretudo, usar de prudência e objectividade nas decisões.
A Igreja terá de ter um papel no superar da crise económica?
A Igreja tem um papel, de criar na população uma atitude de esperança. Não tenho posições definidas sobre se as causas que nos levaram a esta situação eram evitáveis nem se as soluções apontadas são as melhores. Aí estamos no campo estritamente político. Até mesmo racionalmente tenho dificuldade.
Tem dificuldade porque não é racional?
Sim, mas tornou-se inevitável e agora é através da lei do orçamento que temos de ajudar as pessoas a viver com coragem e sem revolta. A revolta não leva a nada, temos de estar unidos para salvar o bem-estar das nossas populações. E aí a Igreja tem um papel.
Acredita que vai haver uma solução breve?
Só a longo prazo, porque não depende só de nós. Resta-nos a sensatez das decisões que vamos tomando e que já não são só nossas, porque, de cada vez que eles vão ao Conselho Europeu, vêm de lá com uma série de recados que, depois, têm dificuldades em implantar cá. Prevejo que a solução vai ser demorada e não vale a pena estarem com promessas fáceis demais porque, repito, não depende só de nós. Também prevejo que os mecanismos internacionais vão mudar muito e basta ver o caso da China, que está muito cautelosa.
Com base nas suas previsões parece não acreditar que este Governo tenha uma vida longa?
Democraticamente, é normal que tenha. O resto não sei prever.
Mas não o espanta que no próximo ano haja eleições legislativas devido a uma moção de censura do PSD?
E quem é que a vota?
Os partidos da oposição. Ou acha que estão comprometidos com este Governo?
Não sei. Se olharmos para o que se passou em Itália agora! Parecia evidente que Berlusconi caía, e nada. Aconteceu uma coisa que cá não se verificou, os deputados começaram a emigrar de um partido para outro.
Em Portugal aconteceria o mesmo?
Não é costume. Tem havido casos isolados de deputados que ficam como independentes, mas não mudam de partido.
Considera então que não vai haver uma maioria que derrube este Governo?
Não tenho a certeza de nada neste momento. É evidente que uma moção de censura supõe uma maioria para governar e no quadro actual quem é que faz maiorias? Faz maioria o PS com a esquerda toda; faz maioria o PS com qualquer dos partidos à sua direita. Numa moção de censura, o PS fica de fora. Portanto, as maiorias têm de ser ou à direita do PS, onde não há maioria, ou uma aliança dessa maioria à direita do PS com a esquerda, com o Partido Comunista e com o Bloco de Esquerda. É possível que possa acontecer, mas não tenho a certeza.
Acha que o PSD e o CDS não se aliarão para ter uma maioria na Assembleia da República?
Agora não têm! Estamos a falar de uma moção de censura que é votada no equilíbrio de forças do actual Parlamento.
Na sua leitura política, uma moção de censura não passaria porque não haveria nem aliança de direita nem de esquerda?
Não excluo que haja, mas não são fáceis os cenários. Isto também depende muito de se o PSD tem pressa ou não tem pressa de ser poder.
Acha que o PSD quer ser poder?
Acho que não tem pressa.
A Aliança Democrática irá regressar?
Eu tenho a intuição de que não irá regressar. Só se isto se complicar muito ou com a demissão do próprio Governo. Também podemos pôr este cenário, embora o nosso primeiro-ministro... Mas tenho a intuição de que a legislatura vai até ao fim, porque num momento destes uma crise política não é boa. É mais fácil ajudar quem está no poder.
A crise económica também afectou a receita da Igreja, com a baixa no nível de esmolas. É verdade?
Não. Não nos assustemos! O nosso povo é muito generoso e sempre que há um motivo directo existe participação. Veja-se o que aconteceu com o Banco Alimentar contra a Fome! Quando há um motivo directo, o povo português partilha. É evidente que neste momento as pessoas têm menos possibilidade de dar e as participações para a despesa da igreja ao domingo variam entre o gesto e a consciência objectiva de partilhar. Para o gesto, na altura de pôr uma moedinha, basta uma moeda; para o gosto de partilhar, é preciso pôr uma nota um bocadinho maior. Este segundo gesto sempre foi menos numeroso e só aumentou quando mudámos para o euro, porque ninguém reparava que um euro valia 200 escudos. De qualquer modo, ainda não tenho dados em relação à receita e não posso dizer se baixaram ou não.
Já se refez do impacto da sua afirmação sobre as mulheres católicas terem de pensar duas vezes antes de se casar com um muçulmano?
Espantou-me que num serão tão bonito no Casino da Figueira da Foz, onde se falou de tudo, a comunicação social só tenha pegado na última pergunta da noite! Um senhor não ficou contente com a resposta que dei e insistiu para que eu lhe desse orientações de comportamentos, porque, creio, teria um problema desses na família. Após fazê-lo, disse-lhe com um sorriso: "E cautela com os amores." Esse é um problema real, porque é uma cultura tão diferente, se não há um discernimento ou pelo menos um conhecimento do contexto e dos riscos em que vão meter-se. Eu não disse que não se casassem.
Fala-se muito do diálogo inter-religioso. Será possível, designadamente com o islão?
Não se podem meter os muçulmanos todos no mesmo saco... Tenho de confessar que o diálogo inter-religioso é muito difícil porque se é diálogo é simpático em vez de agressivo. Mas o normal é que as pessoas se fechem dentro da sua convicção e credo religioso.
Quem se fecha mais: os católicos ou os muçulmanos?
Há uma coisa que não podemos pedir que se mude só por fruto do diálogo: aquilo em que se acredita. É claro que posso mudar a minha fé se me converter, mas só por fruto do diálogo não se muda a fé. Só se for muito fraquita! Doutro modo, não mudarei aquilo em que acredito, sobretudo tendo em conta que tanto o catolicismo como o islão têm longas tradições, mesmo que no islão ainda seja a religião a comandar a totalidade da vida, da social à pessoal. Hoje, aposto mais no diálogo intercultural, sem excluir o diálogo inter-religioso, porque aí há coisas comuns. Creio que quando se começou a falar de diálogo inter-religioso na base estava a ideia do diálogo intercultural.
Os católicos e os muçulmanos não serão irredutíveis na sua aproximação?
Não, com irredutíveis não há diálogo possível. Nem inter-religioso nem intercultural!
Não está a acontecer agora uma abertura?
Está a acontecer com alguns grupos, mas não com a globalidade. Há muita gente, mesmo no mundo muçulmano, que está agora mais na mira pelo seu número e pelas posições fundamentalistas e exageradas que têm tomado, sobretudo, através da Al-Qaeda. Isso choca, mas não creio que o mundo islâmico do Ocidente fique com aquilo, porque a fé islâmica é muito simples. Tão simples que é inquestionável, e um muçulmano não faz espontaneamente o que um católico faz: pôr questões acerca da sua própria fé. Para isso é preciso uma grande evolução e estão numa fase de evolução que nós já fizemos há 300, 400 ou mil anos. É uma fé muito simples, e o muçulmano é naturalmente um homem bom, razão por que aquelas coisas do Alcorão que hoje serão interpretadas de uma maneira violenta não reflectem a sua afabilidade.
A comunidade muçulmana portuguesa não ficou um pouco crispada consigo?
Fizeram um esforço para não ficar. Por uma razão muito simples, é que há entre nós uma longa caminhada de simpatia e de relação normal. Penso que perceberam que não os agredi e que foi um facto muito mediatizado.
Mas não gostaria de ver Lisboa com mais minaretes do que os que já existem?
Lisboa com mais minaretes seria um regresso na história. O que gostaria era de ver mais torres de igrejas nas grandes cidades dos países muçulmanos. Acho bem que os nossos irmãos de outras religiões tenham aqui todos os direitos da nossa democracia, mas era preciso uma contrapartida mínima nos países onde são maioritários e têm o poder.
Que não existe?
Nada! Há muitos países nossos vizinhos onde se alguém se converter ao cristianismo tudo pode acontecer. Desde ser condenado à morte até ser expulso. Esta disparidade está a chocar o Ocidente e já estamos a sentir os primeiros sintomas dela. A senhora Merkel disse o que disse há um mês e em Inglaterra põe-se seriamente o falhanço da interculturalidade. É o Ocidente a reagir, o que não é bom porque é pôr achas em fogueira acesa.
Vamos ver repetidas as "cruzadas"?
Já estão a acontecer! Hão-de é ter outras expressões para além das que tiveram as cruzadas na Idade Média. Eu fiquei pasmado com a reacção de Angela Merkel, é nitidamente uma reacção a um problema interno!
A Igreja Católica sobreviveu dois milénios. Acha que em 2100, com as mudanças que estão a acontecer no mundo, ainda terá o mesmo perfil de instituição?
Há coisas perenes na Igreja que, se não deixar de existir, não mudam. Uma delas é a fé e a sequência comportamental desse sentimento, a que chamamos moral. Depois, há a estrutura apostólica, que é o baluarte e a solidez que hoje se exprime pelos bispos. Isso não muda, mesmo que se alterem pequenas formas de ser. No que se refere à adaptação ao tempo, é próprio da Igreja moldar-se às mais variadas circunstâncias sociais.
O desenvolvimento muito grande das neurociências não vai desfazendo a crença?
Só a dos que tinham pouca fé. As ciências, por mais avançadas que sejam, ainda não inventaram nada. O que têm feito é descobrir o que Deus criou!
A Igreja resistiu ao fim da missa em latim mas se, entre outras, a imagem bíblica de Adão e Eva for desconstruída o que acontecerá aos fiéis?
Em Roma ainda se fala latim! No que respeita a outras mudanças, se elas se derem, a Igreja resiste com certeza. Já passámos há muito tempo a fase de ler a Bíblia literalmente como se lê um jornal. Todos sabem que na Bíblia a verdade é sugerida e não é descrita. Tem estilos literários, tem uma simbólica riquíssima e é preciso compreender a ancestralidade daquelas culturas. Há uma coisa que na nossa cultura ocidental temos vindo a perder progressivamente, que é o valor do símbolo e da simbólica. E curiosamente somos obrigados a redescobri-la agora com a profusão da linguagem informática. Estive recentemente em Roma para o Conselho Pontifício para a cultura, que foi sobre as nossas linguagens, e vim de lá um pouco assustado.
Assustado com o quê?
Com os panoramas a médio e longo prazo do que será o mundo. Uma das coisas de que me apercebi foi que a linguagem que está a nascer é quase a reinvenção da escrita, daquele momento em que a humanidade transformou o dizer, o pensar e a fala em símbolos escritos. No Ocidente, perdemos muito o valor do símbolo, talvez devido à exactidão da ciência e da técnica e ao pragmatismo do racionalismo que invadiu a nossa cultura. Hoje, só os poetas é que ainda se vão safando com a simbólica... Ora é impossível ler a Bíblia sem ter uma estrutura simbólica. Eu não preciso de acabar com o Adão e a Eva porque, se eu não interpretar os capítulos primeiros do Génesis à letra, o Adão e a Eva não me incomodam nada, pelo contrário, têm uma riqueza de sugestão simbólica enorme. Às vezes há uma certa precipitação em pensar que podem substituir-se. Podem experimentar, mas não creio que seja fácil.
Acha que Deus perdoou a Saramago o livro Caim e as críticas ao Antigo Testamento?
Que Deus estaria disposto a perdoar Saramago, não tenho dúvidas nenhumas! Não sei é se o Saramago quis esse perdão. Eu fui um leitor assíduo de José Saramago e até admirador. Os grandes livros dele, eu li-os todos.
Inclusive o Evangelho?
Exactamente. Mas aí começa um bocado a sua decadência, é o livro que marca o fim daquela genica do José Saramago. O Caim, francamente, é um livro decadente, e acho que o deviam ter aconselhado a não o publicar.
Do resto da obra, o que é que acha?
É um autor raro, porque introduziu um estilo e lê-se com muito agrado. Aliava muito bem a objectividade da investigação histórica à ousadia do estilo. Há quem não aprecie, mas eu gosto de José Saramago.
E o Alcorão, já leu?
Li, claro.

oi- quano um cardeal dá recados politicos mete.se em politica e já cristo disse : a césar o que é de césar; a deus o que é de deus.mal vai o tempo :- cardeal josé policarpo.

Acho que o PSD não tem pressa em ser poder"

por JOÃO CÉU E SILVAHoje
D. José Policarpo foi nomeado cardeal por João Paulo II a 21 de Janeiro de 2001
É impossível não nos surpreendermos com a clareza e os dados que o patriarca põe na mesa quando faz a análise política do País. Doseia algum humor perante a crise, como se só desse modo pudesse perdoar os descaminhos da finança, da economia e do endividamento externo. Apelida de "simpáticas" as conversas com Sócrates, mas não aprecia as medidas do Governo contra a Igreja.
A Igreja portuguesa está quase como o Governo. Até os ministros de Deus disparam críticas e opiniões políticas contrárias. Porquê
A Igreja é uma entidade muito plural e repartida na sua responsabilidade, mais do que a sociedade. Basta lembrar que as dioceses são autónomas e as paróquias são pessoas jurídicas independentes. Se isto é uma vantagem, porque não repousa sobre uma mesma pessoa jurídica, também poderá dar a quem vê de fora uma ideia de grande dispersão.
Que é contrária aos princípios da Igreja?
A unidade é a nossa busca principal, mas não pode ser o anular da diferença e da margem de autenticidade que as pessoas individuais e jurídicas têm de se exprimir. A unidade na doutrina é possível nas grandes atitudes frente à sociedade e para isso é que existe a conferência episcopal. No entanto, não tenho visto nada que pusesse em questão essa busca da unidade na pluralidade da diferença. Pode haver sensibilidades neste tomar de posições em relação à política e à sociedade, mas todos estão de acordo que não é missão da Igreja meter-se directamente na questão política a não ser num caso muito extraordinário.
Como o Papa já referiu?
O Papa acaba de admitir que sim, que em situações-limite a Igreja pode tomar posições políticas. Mas não tem sido essa a nossa prática, a não ser em situações muito concretas ou particularmente exigentes em que essas sensibilidades podem ter expressão. Não vi nada que quebre esta unidade fundamental, embora, com toda a franqueza, haja declarações públicas [de religiosos ] que eu não faria.
Acha que a Igreja não deve ter certas posições?
O princípio geral é de que não se deve meter na política, mesmo que tenhamos uma dificuldade em definir que âmbito é esse. Quando falo que a Igreja deve ser isenta e discreta nas questões políticas, refiro-me à política directa e às decisões do Governo. É evidente que, às vezes, nos apetecia falar como cidadãos...
O que tem acontecido com declarações suas!
... Mas como instituição, temos de a preservar. Até porque o nosso campo é outro, mesmo que nos bastidores apanhemos as consequências das políticas concretas. O político é mais vasto do que isto e diz respeito a todo o bem da sociedade. É nesse sentido mais global que, aí sim, temos uma palavra a dizer, na medida em que somos uma voz e temos um auditório numeroso que espera pela nossa palavra e orientação. Quando há uma tomada de posição mais acutilante sobre política concreta, temos um conjunto de vozes a aplaudir-nos e outro a denunciar- -nos. Por isso, é preciso uma grande isenção, que só se consegue tendo sempre muito em conta qual é o objectivo da nossa missão.
Já o Concílio Vaticano II pedia aos católicos para terem mais intervenção na sociedade.
A isenção política não é uma imposição do poder civil, é uma opção nossa para salvaguardar a especificidade da nossa missão. Se nos metemos na política directa, temos de sofrer as consequências dos que estão na política directa e não podemos reivindicar impunidade.
A Igreja não está impune, mas os políticos estão. É isso que quer dizer?
Não deviam estar nem estão. Não podemos é metê-los na cadeia cada vez que fazem erros, até porque para isso há punição em democracia.
Nos casos de pedofilia, muitos dos padres que pecaram tiveram penalização. O mesmo deveria acontecer aos políticos?
Esse é um outro tema para onde os holofotes apontaram todos. São casos tristes para nós - bastava um para termos muita pena -, porque é uma coisa muito feia. Mas, em termos globais estatísticos, os casos são apenas de 0,0 não sei quanto por cento. Talvez este sofrimento por que a Igreja tem passado, e eu compreendo que a sociedade se indigne porque se havia alguma entidade de que não se devia esperar uma coisa dessas era da Igreja, alerte a sociedade como um todo para a erradicarmos com uma política de família e de educação.
O actual Papa foi quem pagou pelos casos que aconteceram no pontificado de João Paulo II. Escapará a essa marca?
Reagiu com muita firmeza e, em certos casos, até nos surpreendeu, chamando as coisas pelos nomes, propondo regras muito rígidas e revendo, como está a acontecer, a própria legislação canónica das penas canónicas em relação a certos casos. O Papa tinha um velho conhecimento dos problemas e dos dossiers que passavam pela sua mão e alertava os episcopados. Esta questão é muito delicada e tão fora da nossa expectativa imediata que demorou algum tempo até os episcopados tomarem consciência dessa realidade.
Porquê?
Primeiro, pela delicadeza do assunto, que não é para remexer em público. Segundo, porque a única maneira de se ter conhecimento é pela denúncia das vítimas, o que por ser tão humilhante muitas vezes não queriam ser reconhecidas. Foi a brutalidade das revelações feitas sobretudo nos Estados Unidos que levou o resto do mundo a alertar-se para isso e ainda bem! Se esta mazela existe na Igreja, temos de a curar.
Como é que Portugal passou tão ao lado?
Não há casos que eu conheça - não quer dizer que não haja um ou outro - e penso que essa situação tem que ver com vários factores. O principal é haver um cuidado grande na selecção e na formação dos jovens padres e na detecção numa fase da juventude da vida do jovem daquilo que são fragilidades, e ajudá-las a corrigir. Depois, é uma qualidade básica do nosso povo respeitar as crianças. Eu temo é que esta publicidade suscite casos, porque, espontaneamente, não está na maneira de ser do nosso povo essa atitude. Qualquer português fica derretido diante do olhar de uma criança! Não excluo que porventura haja casos que tenham acontecido ou que ainda venham a revelar-se pois o pecado existe em todo o lado, mas por enquanto estamos isentos dessa vergonha.
Não receia que a WikiLeaks revele estes casos?
Não sei que telegramas é que o embaixador dos Estados Unidos mandou para lá! Eles informam tudo, desde a cor da gravata até ao cinema a que se foi.
O encobrimento da pedofilia no tempo de João Paulo II não vai obstar à canonização?
Não me pronuncio sobre isso. As únicas coisas que sei é o que diz este Papa, de resto não tenho nenhuma notícia. Tenho de reconhecer que, na hierarquia da Igreja, a primeira reacção foi a de evitar o escândalo. Isso reconheço que houve em geral, a começar no próprio Papa João Paulo II. O que estava errado nos casos que aconteceram foi não ter tirado esse sacerdote de qualquer contacto pastoral, mas deslocá-lo para outro lugar e voltar a repetir-se no segundo local.
Normalmente é a Igreja que pede sacrifícios. Agora, o Governo ultrapassa essa doutrina religiosa com a exigência económica. Sente o peso da "concorrência" do Governo?
Não, a Igreja não pede sacrifícios da mesma maneira porque não há conversão sem austeridade e sem exigência interior. Sou um observador atento - e tenho também mais meios de observação que o comum dos cidadãos - e o que se passa é que ainda estou perplexo pelo juízo global do que se está a passar. Penso que hoje há uma componente internacional que é muito complicada ,e como o mundo é uma aldeia até vemos Portugal ir vender títulos da sua dívida à China.
O que se passa com a economia portuguesa?
Na leitura que faço dos factos, penso que houve um momento em que se separou demasiadamente a relação estruturada durante décadas entre mundo financeiro e o económico, e a finança funcionava como um apoio e potenciador da economia. Dentro deste processo, há um momento em que o valor das moedas que eram caucionadas pelo ouro deixa de ser uma garantia do valor da moeda e passou a depender da saúde das economias. Esta autonomização da finança em si mesma como meio de ganhar dinheiro, e ao mesmo tempo com a oferta imensa, fez com que fosse impressionante o volume de dinheiro que passou a circular no mundo nos últimos anos.
É uma questão económica apenas?
Também tem que ver com a democracia, porque os partidos que estão no poder precisam de mostrar a obra feita e recorreram a esses mecanismos que dentro de uma normalidade regulada ia funcionando. Há um momento em que uma das peças do puzzle se escangalha e fica tudo de pernas para o ar. Eu não tinha noção de que Portugal pagava por dia um balúrdio ao estrangeiro por dever tanto dinheiro! O que me leva a crer que há também uma crise de sistema.
Do sistema capitalista em si?
Do sistema económico-liberal com que o mundo se organizou. Não significa que vá acabar, até porque não há alternativas experimentadas ou estudadas. O modelo totalitário também se desfez como um baralho de cartas e os que o defendem são os saudosistas de uma época. Há que inventar novas formas, mas, sobretudo, usar de prudência e objectividade nas decisões.
A Igreja terá de ter um papel no superar da crise económica?
A Igreja tem um papel, de criar na população uma atitude de esperança. Não tenho posições definidas sobre se as causas que nos levaram a esta situação eram evitáveis nem se as soluções apontadas são as melhores. Aí estamos no campo estritamente político. Até mesmo racionalmente tenho dificuldade.
Tem dificuldade porque não é racional?
Sim, mas tornou-se inevitável e agora é através da lei do orçamento que temos de ajudar as pessoas a viver com coragem e sem revolta. A revolta não leva a nada, temos de estar unidos para salvar o bem-estar das nossas populações. E aí a Igreja tem um papel.
Acredita que vai haver uma solução breve?
Só a longo prazo, porque não depende só de nós. Resta-nos a sensatez das decisões que vamos tomando e que já não são só nossas, porque, de cada vez que eles vão ao Conselho Europeu, vêm de lá com uma série de recados que, depois, têm dificuldades em implantar cá. Prevejo que a solução vai ser demorada e não vale a pena estarem com promessas fáceis demais porque, repito, não depende só de nós. Também prevejo que os mecanismos internacionais vão mudar muito e basta ver o caso da China, que está muito cautelosa.
Com base nas suas previsões parece não acreditar que este Governo tenha uma vida longa?
Democraticamente, é normal que tenha. O resto não sei prever.
Mas não o espanta que no próximo ano haja eleições legislativas devido a uma moção de censura do PSD?
E quem é que a vota?
Os partidos da oposição. Ou acha que estão comprometidos com este Governo?
Não sei. Se olharmos para o que se passou em Itália agora! Parecia evidente que Berlusconi caía, e nada. Aconteceu uma coisa que cá não se verificou, os deputados começaram a emigrar de um partido para outro.
Em Portugal aconteceria o mesmo?
Não é costume. Tem havido casos isolados de deputados que ficam como independentes, mas não mudam de partido.
Considera então que não vai haver uma maioria que derrube este Governo?
Não tenho a certeza de nada neste momento. É evidente que uma moção de censura supõe uma maioria para governar e no quadro actual quem é que faz maiorias? Faz maioria o PS com a esquerda toda; faz maioria o PS com qualquer dos partidos à sua direita. Numa moção de censura, o PS fica de fora. Portanto, as maiorias têm de ser ou à direita do PS, onde não há maioria, ou uma aliança dessa maioria à direita do PS com a esquerda, com o Partido Comunista e com o Bloco de Esquerda. É possível que possa acontecer, mas não tenho a certeza.
Acha que o PSD e o CDS não se aliarão para ter uma maioria na Assembleia da República?
Agora não têm! Estamos a falar de uma moção de censura que é votada no equilíbrio de forças do actual Parlamento.
Na sua leitura política, uma moção de censura não passaria porque não haveria nem aliança de direita nem de esquerda?
Não excluo que haja, mas não são fáceis os cenários. Isto também depende muito de se o PSD tem pressa ou não tem pressa de ser poder.
Acha que o PSD quer ser poder?
Acho que não tem pressa.
A Aliança Democrática irá regressar?
Eu tenho a intuição de que não irá regressar. Só se isto se complicar muito ou com a demissão do próprio Governo. Também podemos pôr este cenário, embora o nosso primeiro-ministro... Mas tenho a intuição de que a legislatura vai até ao fim, porque num momento destes uma crise política não é boa. É mais fácil ajudar quem está no poder.
A crise económica também afectou a receita da Igreja, com a baixa no nível de esmolas. É verdade?
Não. Não nos assustemos! O nosso povo é muito generoso e sempre que há um motivo directo existe participação. Veja-se o que aconteceu com o Banco Alimentar contra a Fome! Quando há um motivo directo, o povo português partilha. É evidente que neste momento as pessoas têm menos possibilidade de dar e as participações para a despesa da igreja ao domingo variam entre o gesto e a consciência objectiva de partilhar. Para o gesto, na altura de pôr uma moedinha, basta uma moeda; para o gosto de partilhar, é preciso pôr uma nota um bocadinho maior. Este segundo gesto sempre foi menos numeroso e só aumentou quando mudámos para o euro, porque ninguém reparava que um euro valia 200 escudos. De qualquer modo, ainda não tenho dados em relação à receita e não posso dizer se baixaram ou não.
Já se refez do impacto da sua afirmação sobre as mulheres católicas terem de pensar duas vezes antes de se casar com um muçulmano?
Espantou-me que num serão tão bonito no Casino da Figueira da Foz, onde se falou de tudo, a comunicação social só tenha pegado na última pergunta da noite! Um senhor não ficou contente com a resposta que dei e insistiu para que eu lhe desse orientações de comportamentos, porque, creio, teria um problema desses na família. Após fazê-lo, disse-lhe com um sorriso: "E cautela com os amores." Esse é um problema real, porque é uma cultura tão diferente, se não há um discernimento ou pelo menos um conhecimento do contexto e dos riscos em que vão meter-se. Eu não disse que não se casassem.
Fala-se muito do diálogo inter-religioso. Será possível, designadamente com o islão?
Não se podem meter os muçulmanos todos no mesmo saco... Tenho de confessar que o diálogo inter-religioso é muito difícil porque se é diálogo é simpático em vez de agressivo. Mas o normal é que as pessoas se fechem dentro da sua convicção e credo religioso.
Quem se fecha mais: os católicos ou os muçulmanos?
Há uma coisa que não podemos pedir que se mude só por fruto do diálogo: aquilo em que se acredita. É claro que posso mudar a minha fé se me converter, mas só por fruto do diálogo não se muda a fé. Só se for muito fraquita! Doutro modo, não mudarei aquilo em que acredito, sobretudo tendo em conta que tanto o catolicismo como o islão têm longas tradições, mesmo que no islão ainda seja a religião a comandar a totalidade da vida, da social à pessoal. Hoje, aposto mais no diálogo intercultural, sem excluir o diálogo inter-religioso, porque aí há coisas comuns. Creio que quando se começou a falar de diálogo inter-religioso na base estava a ideia do diálogo intercultural.
Os católicos e os muçulmanos não serão irredutíveis na sua aproximação?
Não, com irredutíveis não há diálogo possível. Nem inter-religioso nem intercultural!
Não está a acontecer agora uma abertura?
Está a acontecer com alguns grupos, mas não com a globalidade. Há muita gente, mesmo no mundo muçulmano, que está agora mais na mira pelo seu número e pelas posições fundamentalistas e exageradas que têm tomado, sobretudo, através da Al-Qaeda. Isso choca, mas não creio que o mundo islâmico do Ocidente fique com aquilo, porque a fé islâmica é muito simples. Tão simples que é inquestionável, e um muçulmano não faz espontaneamente o que um católico faz: pôr questões acerca da sua própria fé. Para isso é preciso uma grande evolução e estão numa fase de evolução que nós já fizemos há 300, 400 ou mil anos. É uma fé muito simples, e o muçulmano é naturalmente um homem bom, razão por que aquelas coisas do Alcorão que hoje serão interpretadas de uma maneira violenta não reflectem a sua afabilidade.
A comunidade muçulmana portuguesa não ficou um pouco crispada consigo?
Fizeram um esforço para não ficar. Por uma razão muito simples, é que há entre nós uma longa caminhada de simpatia e de relação normal. Penso que perceberam que não os agredi e que foi um facto muito mediatizado.
Mas não gostaria de ver Lisboa com mais minaretes do que os que já existem?
Lisboa com mais minaretes seria um regresso na história. O que gostaria era de ver mais torres de igrejas nas grandes cidades dos países muçulmanos. Acho bem que os nossos irmãos de outras religiões tenham aqui todos os direitos da nossa democracia, mas era preciso uma contrapartida mínima nos países onde são maioritários e têm o poder.
Que não existe?
Nada! Há muitos países nossos vizinhos onde se alguém se converter ao cristianismo tudo pode acontecer. Desde ser condenado à morte até ser expulso. Esta disparidade está a chocar o Ocidente e já estamos a sentir os primeiros sintomas dela. A senhora Merkel disse o que disse há um mês e em Inglaterra põe-se seriamente o falhanço da interculturalidade. É o Ocidente a reagir, o que não é bom porque é pôr achas em fogueira acesa.
Vamos ver repetidas as "cruzadas"?
Já estão a acontecer! Hão-de é ter outras expressões para além das que tiveram as cruzadas na Idade Média. Eu fiquei pasmado com a reacção de Angela Merkel, é nitidamente uma reacção a um problema interno!
A Igreja Católica sobreviveu dois milénios. Acha que em 2100, com as mudanças que estão a acontecer no mundo, ainda terá o mesmo perfil de instituição?
Há coisas perenes na Igreja que, se não deixar de existir, não mudam. Uma delas é a fé e a sequência comportamental desse sentimento, a que chamamos moral. Depois, há a estrutura apostólica, que é o baluarte e a solidez que hoje se exprime pelos bispos. Isso não muda, mesmo que se alterem pequenas formas de ser. No que se refere à adaptação ao tempo, é próprio da Igreja moldar-se às mais variadas circunstâncias sociais.
O desenvolvimento muito grande das neurociências não vai desfazendo a crença?
Só a dos que tinham pouca fé. As ciências, por mais avançadas que sejam, ainda não inventaram nada. O que têm feito é descobrir o que Deus criou!
A Igreja resistiu ao fim da missa em latim mas se, entre outras, a imagem bíblica de Adão e Eva for desconstruída o que acontecerá aos fiéis?
Em Roma ainda se fala latim! No que respeita a outras mudanças, se elas se derem, a Igreja resiste com certeza. Já passámos há muito tempo a fase de ler a Bíblia literalmente como se lê um jornal. Todos sabem que na Bíblia a verdade é sugerida e não é descrita. Tem estilos literários, tem uma simbólica riquíssima e é preciso compreender a ancestralidade daquelas culturas. Há uma coisa que na nossa cultura ocidental temos vindo a perder progressivamente, que é o valor do símbolo e da simbólica. E curiosamente somos obrigados a redescobri-la agora com a profusão da linguagem informática. Estive recentemente em Roma para o Conselho Pontifício para a cultura, que foi sobre as nossas linguagens, e vim de lá um pouco assustado.
Assustado com o quê?
Com os panoramas a médio e longo prazo do que será o mundo. Uma das coisas de que me apercebi foi que a linguagem que está a nascer é quase a reinvenção da escrita, daquele momento em que a humanidade transformou o dizer, o pensar e a fala em símbolos escritos. No Ocidente, perdemos muito o valor do símbolo, talvez devido à exactidão da ciência e da técnica e ao pragmatismo do racionalismo que invadiu a nossa cultura. Hoje, só os poetas é que ainda se vão safando com a simbólica... Ora é impossível ler a Bíblia sem ter uma estrutura simbólica. Eu não preciso de acabar com o Adão e a Eva porque, se eu não interpretar os capítulos primeiros do Génesis à letra, o Adão e a Eva não me incomodam nada, pelo contrário, têm uma riqueza de sugestão simbólica enorme. Às vezes há uma certa precipitação em pensar que podem substituir-se. Podem experimentar, mas não creio que seja fácil.
Acha que Deus perdoou a Saramago o livro Caim e as críticas ao Antigo Testamento?
Que Deus estaria disposto a perdoar Saramago, não tenho dúvidas nenhumas! Não sei é se o Saramago quis esse perdão. Eu fui um leitor assíduo de José Saramago e até admirador. Os grandes livros dele, eu li-os todos.
Inclusive o Evangelho?
Exactamente. Mas aí começa um bocado a sua decadência, é o livro que marca o fim daquela genica do José Saramago. O Caim, francamente, é um livro decadente, e acho que o deviam ter aconselhado a não o publicar.
Do resto da obra, o que é que acha?
É um autor raro, porque introduziu um estilo e lê-se com muito agrado. Aliava muito bem a objectividade da investigação histórica à ousadia do estilo. Há quem não aprecie, mas eu gosto de José Saramago.
E o Alcorão, já leu?
Li, claro.