ENTREVISTA DN/TSF: JOSÉ MIGUEL JÚDICE
"Cavaco vai impor condições aos partidos"
por DAVID DINIS/PAULO TAVARESHoje
Sócrates já é parte do problema, Passos precisa de mudar de equipa. Para José Miguel Júdice, tudo vai mudar após as presidenciais. Virá o FMI, "é inevitável", e Cavaco imporá condições a um novo Governo. No limite, até um Governo de salvação nacional. Remodelar para quê?
O livro O Meu Sá Carneiro, que lançou esta semana, traça um retrato pouco simpático de Cavaco Silva enquanto líder do PSD e primeiro-ministro. Já teve algum telefonema de desagrado?
Não acho que seja pouco simpático, acho que é rigoroso. Reconheço-lhe as qualidades como lhe reconheço os defeitos. Mas é uma questão de feitio - Cavaco Silva não é propriamente um líder que tenha uma estratégia de rupturas e de riscos como Sá Carneiro. É um homem muito mais prudente. E não, não tive ocasião de falar com ele. Mas ele sabe como eu penso, como eu sou. Aliás, a única pessoa em quem sempre votei foi em Cavaco Silva...
Falta de alternativa?
Não é só. Ele tem todas as qualidades para ser Presidente da República - sobretudo nesta crise. Se o apoiei há cinco anos, agora apoio-o com muito maior intensidade.
Diz no mesmo livro que vivemos a maior crise na história. E que nada se consegue sem uma liderança, "que não se vê". Passos Coelho ainda pode aparecer como tal?
Seja quem for. Quem me apresentar e me convencer (não é só dizer) que vai fazer as reformas, que vai tentar mudar a realidade (para o que vai ser preciso muita coragem), terá o meu apoio.
Passos ainda não o convenceu?
Ainda não, mas também Sócrates não me convenceu... não votei no Sócrates na primeira campanha, mas depois de facto, na primeira fase, convenceu-me. Ainda ontem Fernando Ulrich dizia que a reforma da Segurança Social foi muito corajosa e arriscada. O problema de Sócrates foi não ter continuado a fazer depois disso.
Escreveu que Cavaco matou a herança de Sá Carneiro, aproximando o PSD do PS. Passos Coelho pode fazer o inverso?
Cavaco tentou uma estratégia hegemónica, secando o CDS à direita e o PS à esquerda, negociando com a UGT. Sá Carneiro queria fortalecer o PS, criando uma confrontação entre os dois blocos. Passos Coelho ainda não é claro. Pareceu-me que teve algumas ideias corajosas, mas o grande problema é que eles são reféns dos partidos.