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O SILÊNCIO À VOLTA DA MEMÓRIA


Em “relação às contas na Suíça, julgo que o assunto está mais do que esclarecido.
Há para lá umas contas na Suíça, há para lá umas pessoas que têm contas na Suíça.
O engenheiro José Sócrates – o que se demonstra com as contas na Suíça – é que não tem nada a ver com as contas na Suíça”
João Araújo 29/05/2015


Á ESQUINA DO MONTE CARLO


HERBERTO, A AVENTURA nos eternos

- Este blog voltou ao activo hoje dia 10 de Junho de 2015. -

E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.

Camões / Lusiadas


Isto não há nada como acenar com medalhinhas para ter sempre clientela.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As máquinas das campanhas não estão preocupadas com o passado de candidatos

Cavaco e Alegre. As máquinas das campanhas não estão preocupadas com o passado de candidatos

por Sónia Cerdeira, Publicado em 01 de Dezembro de 2010  |  

Os apoiantes acreditam que as notícias sobre as acções antes do 25 de Abril não vão afectar eleições presidenciais
As mais recentes revelações sobre o passado de Cavaco Silva e Manuel Alegre, ainda no tempo da ditadura de Salazar, não preocupam as suas máquinas de campanha. Não vão mudar a estratégia de comunicação e acreditam que as notícias em nada influenciam os resultados das eleições presidenciais marcadas para 23 de Janeiro. 

Cavaco Silva sentia-se "integrado" no regime de Salazar e Manuel Alegre incentivou ataques à bomba em Portugal, segundo relatórios da PIDE, agora trazidos a público pela revista "Sábado". 

Entre os apoiantes de Cavaco Silva e Manuel Alegre contactados pelo i, nenhum se mostrou preocupado com os danos que estas notícias possam ter na imagem dos candidatos. E nos resultados eleitorais. As máquinas das campanhas estão tranquilas. "Este é o tipo de guerra suja que não pega com o candidato Cavaco Silva. Não pega porque a sua vida é totalmente transparente e por isso não temos qualquer comentário a não ser: absurdo", afirma ao i Luís Palha, director de campanha de Cavaco Silva. "Manuel Alegre era locutor de rádio e relatava acontecimentos. O incentivar a bombas foi colocado pelo jornal [revista ''Sábado''], foi uma interpretação pessoal. Há uma interpretação de factos na notícia a partir de relatórios da PIDE", garante Duarte Cordeiro, director de campanha de Manuel Alegre. 

As revelações não trazem "qualquer tipo de escândalo". "Não é um factor de desprestígio [Alegre] admitir o terrorismo contra o terrorismo do Estado Novo e também não é vergonha Cavaco Silva ter-se submetido à ditadura para sobreviver, como fez a maioria das elites", explica o politólogo Adelino Maltez. O passado dos candidatos é "muito longínquo" e os eleitores deixarão num "plano secundário" as escolhas pessoais dos candidatos a Belém, considera o politólogo António Costa Pinto. "É conhecido o facto de Cavaco Silva não ter um passado político de contestação ao regime autoritário. Isso foi muito referido na sua liderança no PSD e portanto não há uma novidade. É apenas relembrar a alguns segmentos do eleitorado que votam à esquerda que Cavaco não é um deles", aponta o politólogo. Os relatos do passado de Cavaco e Alegre são argumentos que servem certos nichos de eleitorado - que já têm opinião formada - para reforçar as suas convicções: quem não vota em Alegre não vai votar por causa do que é revelado sobre Cavaco e vice-versa. Aliás, as questões lançadas pelas notícias, "colocam Cavaco mais à direita e Alegre mais à esquerda que os próprios partidos que os apoiam", comenta Costa Pinto.

A memória em política é curta. O lugar comum repete-se e os apoiantes de Cavaco Silva e Manuel Alegre querem enterrar o passado dos candidatos nos distantes anos da ditadura. "São notícias desfasadas do tempo, são coisas antigas. Os candidatos não vão ligar a essas coisas - pelo menos é o que eu faria - e as pessoas também não", diz Narciso Miranda, apoiante de Alegre e ex-presidente da câmara municipal de Matosinhos. "Estou mais preocupado com o facto de a aprovação do Orçamento, que deveria acalmar os mercados, ainda não os ter acalmado", conclui. Uma opinião partilhada por Elísio Estanque, membro da Comissão Política de Manuel Alegre, que acredita que o passado não vai influenciar o voto: "Tudo o que for discussão política séria é que deve influenciar os votos. As especulações pessoais não são merecedoras de atenção. As pessoas não vão votar por via disso".

Da esquerda à direita, ninguém parece duvidar que os eleitores não vão escolher um candidato por via do seu passado. "Ninguém liga a isso. As pessoas não estão minimamente preocupadas com o passado dos candidatos. Estão preocupadas com o dia-a-dia e a situação económica do país. Ou são especulações ou fazem parte de um passado distante que é perfeitamente secundário", acredita José Cesário, um dos mandatários da candidatura de Cavaco Silva. 

O PASSADO dos candidatos A PIDE investigou Cavaco Silva para que pudesse ser autorizado a ler documentação secreta da NATO, na Comissão Coordenadora da Investigação para a NATO - um desejo do general Martiniano Homem de Figueiredo, líder da Autoridade Nacional de Segurança. Para isso Cavaco Silva teve de preencher um boletim onde respondeu a várias questões, por exemplo, qual a sua "posição e actividades políticas". Segundo a revista "Sábado", em Dezembro de 1967, Cavaco Silva respondeu que se sentia "integrado no actual regime político". "Não exerço qualquer actividade política", acrescentou. 

Manuel Alegre era o 34º a integrar um pequeno livro da DGS (Direcção-Geral de Segurança, correspondente à PIDE, no tempo de Marcello Caetano) com o título "Fotografias de 109 Elementos Perigosos". Alegre integrava uma lista de potenciais suspeitos de actividades terroristas ou membros de organizações de esquerda apoiadas por "movimentos terroristas", segundo avança a "Sábado". Desde 1964 que Alegre se encontrava no exílio em Argel e era o principal locutor da Rádio Voz da Liberdade, emissora clandestina ao serviço da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN). Segundo a mesma revista, o candidato a Belém apoiado pelo PS e Bloco de Esquerda apelava à deserção, à sabotagem de objectivos militares e lia comunicados das Brigadas Revolucionárias, apelando a que se juntassem ao seu combate. Em Março de 1973 estavam previstas acções de sabotagem para boicotar o recrutamento de novos soldados, mas duas pessoas - que se viriam a revelar os dois bombistas - acabaram por morrer. "A guerra combate-se com a guerra e a guerra não se faz sem sangue. Estamos certos de que os trabalhadores e o povo compreenderão que é praticamente impossível travar uma luta armada consequente sem mortos nem feridos". Estas palavras são atribuídas a Manuel Alegre por Carlos Antunes, um ex-comunista que rompeu com o partido. Manuel Alegre rejeita ter instigado a mortes e actos terroristas: "Quando há um processo de luta armada há sempre risco de baixas civis. Havia um propósito assumido de não provocar baixas. As únicas baixas que houve foram nossas. Hoje, continuo a achar que valia a pena correr o risco. Era preciso uma pedra no charco", respondeu à "Sábado".