--Quando uma crise mundial vem afectar as vidas de milhões de seres humanos, é natural que haja uma reacção.A reacção natural ás catástrofes , sejam elas quais forem é de medo e sabemos que o medo traz com ele a perda da confiança; é uma relação causa/efeito que só pode ser trasformada se as pessoas sentirem um clima de protecção e equilíbrio por parte daqueles que os governam.
--Em Portugal há muito que se vem falando de crise.
Há mais tempo ainda que se vem sentindo a crise. Primeiro a que ficou instalada desde os tempos dos governos salaristas e caetanistas,acentuados depois pelos governos á direita que usam da desculpa de que estiveram pouco tempo no poder , mas que governaram tão mal e com consequências tão desastrosas para a economia que os efeitos que deixaram ficaram prolongados no tempo.Depois mais acentuada ainda pela terrivel crise mundial que nos vem assolando desde há longos meses e de que Ferreira leite se atreveu a dizer que não existia.
Já se sabe que nisto da governação , quem deseja deixar plantadas as sementes da desgraça , o que tem a fazer é plantá~las em profundidade, não se vêem mas chega sempre o tempo em que se sentem e quando finalmente conseguimos olhá-las é quase sempre tarde demais.
--Sabe-se também que nesta coisa de governação existem sempre dois lados; os que pertencem a uma visão menos conservadora das cousas, sentindo a vontade de melhorar a vida de todos os seus concidadãos e a dos outros , daqueles que sempre estiveram mais interessados na manutenção dos seus privilégios que sempre foram mantidos á custa dos sacrifícios das populações de governaram.
Os primeiros apostam no desenvolvimento económico e na educação e pretendem fazer dos seus países países de cidadãos livres.
Os outros apostam na discórdia e no sistema de castas , onde uns continuam a ter tudo e a maioria continua sofrendo na escassez de tudo, pretendendo assim criar uma sociedade de escravos.
--Em Portugal percebe-se cada vez melhor estas diferenças através dos discursos e das prácticas de quem assume o poder, sendo cada vez mais visível o esforça que alguns fazem para minar a credibilidade e a confiança no País e na sua capacidade de resposta ás dificuldades.
Sabe-se pelo exemplo que a História nos dá se quisermos prestar-lhe atenção, como chegaram ao poder as facções mais reaccionárias e totalitárias e de como lhes foi primeiro necessário minar as sociedades enchendo-as de raiva e medo, de desconfiança e inveja , de agressividade e traição, através de campanhas onde o racismo e a mentira envolveram todos os que queriam destruir implantando assim o seu sistema de terror e injustiças.
--Quando um dirigente politíco faz afirmações contra o seu próprio país , insinuando que está ingovernável , que está incapaz de assumir as suas responsabilidades e que está fragilizado social e económicamente , esse dirigente está a minar propositadamente o seu país e as suas instituições.
Ora só assume essa práctica quem deseja chegar ao poder pelas vias menos democráticas. --Claro que a maioria do povo , que é quem sente as dificuldades extremas provocadas pela crise, ao se aperceber de um discurso miserabilista que pretende criar vulnerabilidades que muitas das vezes nem sequer existem , manifesta imediatmente grande desconfiança.
Esse é o efeito pretendido pelos que não respeitando a democracia como forma de governo, procuram destruí-la para implantar a sua ideia de governação que ao estar assente em truques dessa natureza não pode nunca ser visão que interesse á maioria mas sim á minoria que deseja manter o estado de coisas controlado por forma á continuação de uma sociedade de escravos.
--São esses a quem interessa falar sobre falta de confiança, são esses a quem interessa a continuada criação de casos que trazem instabilidade ás sociedades , são esses a quem interessa projectar uma sistemática visão redutora e mesquinha das sociedades onde estão inseridos.
--E todos os que dizem que a aposta na educação é inútil e demasiado gastadora, os que insinuam que o povo não necessita de se instruir mas apenas de trabalhar, os que levantam a voz contra todas as protecções sociais instauradas pelos governos, criticando sistemáticamente esses governos e acusando-dos de delapidar a economia por proteger os mais pobres , são aqueles a quem interessa a continuada exploração dos que tendo menos,vão ficando cada vez mais á mercê da sua avidez.
--Compete aos governos mais evoluídos e democráticos defender a todo o custo o sistema democrático, impedindo que os gaviões do terror continuem as suas manobras para destruir as conquistas civilizacionais que distinguem os homens livres dos escravos. E porque nenhum escravo é dono do seu destino, importa lutar contra todos os que estão neste momento empenhados em fazer de Portugal um país onde apenas uns quantos pretendem apropriar-se do destino colectivo. Falta de confiança na democracia?
Essa ideia serve apenas aos que querem destruir a Democracia.
O resto é palavriado mais ou menos doutorado.Mas sabemos desde há muito que nem todos os médicos salvam vidas e que nem todos os doutores são capazes de escrever sem erros.
- Legitimidade, confiança institucional e descontentamento democrático em Portugal*
1. Introdução
Quais as atitudes dos portugueses em relação ao regime político e às suas
instituições e actores políticos fundamentais? Ao longo da última década, a questão tem
suscitado respostas algo contraditórias. As conclusões mais pessimistas têm sido avançadas
por estudos de natureza qualitativa. Wiarda e Mott, por exemplo, detectam em Portugal (e
Espanha) a permanência de sintomas de uma cultura política "corporativa", "autoritária" e
"iliberal", vistos em grande medida como o resultado de "uma fusão entre crenças católicas
e modernos governos democráticos" (2001: 103). Esses sintomas consistem numa
tendência para a concessão de maior legitimidade a "homens fortes" e a figuras e
instituições "acima" da política, enquanto que líderes eleitos democraticamente e os
partidos políticos são objecto de grande hostilidade por parte da opinião pública, e "os
debates políticos são vistos com desaprovação" (Wiarda e Mott, 2001: 103; ver também
Wiarda 1993).
O retrato alternativo que resulta dos estudos que utilizam dados quantitativos
recolhidos por meio de inquéritos de opinião é porventura menos negativo, mas não deixa
de ser ambivalente. Por um lado, eles mostram que a democracia portuguesa se encontra
plenamente consolidada do ponto de vista atitudinal. Em meados dos anos 80, o apoio à
democracia em Portugal já se situava a um nível "médio-alto", apesar da permanência de
algumas "bolsas" de preferências "autoritárias" (Vala, Heimer e Viegas, 1990) e de os
níveis de "apoio difuso" ao regime permanecerem inferiores aos verificados nas restantes
novas democracias da Europa do Sul (Morlino e Montero, 1995).