Buraco colossal
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O SILÊNCIO À VOLTA DA MEMÓRIA


Em “relação às contas na Suíça, julgo que o assunto está mais do que esclarecido.
Há para lá umas contas na Suíça, há para lá umas pessoas que têm contas na Suíça.
O engenheiro José Sócrates – o que se demonstra com as contas na Suíça – é que não tem nada a ver com as contas na Suíça”
João Araújo 29/05/2015


Á ESQUINA DO MONTE CARLO


HERBERTO, A AVENTURA nos eternos

- Este blog voltou ao activo hoje dia 10 de Junho de 2015. -

E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.

Camões / Lusiadas


Isto não há nada como acenar com medalhinhas para ter sempre clientela.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Almeida Santos: "Carta aberta ao militante do meu partido Henrique Neto"




 Acabam de me chamar a atenção para uma entrevista verdadeiramente singular que deu ao diário i, e que este publicou na passada terça-feira. Singular é pouco. Singularíssima! E assim porque me entristeceu ver um militante do meu partido mentir sobre o comportamento do seu presidente, que sou eu. De há muito o sabia zangado com o PS, ao ponto de vir sendo um dos seus críticos mais contumazes. E para o efeito, a militância ajuda. Isso nunca me preocupou. Sê-lo é seu direito, mesmo quando, em meu entender, o criticar sem razão.  Desta vez, porém, o Henrique Neto, para discordar, mentiu. E isso é que é grave! Diz inter allia que, nas reuniões da Comissão Nacional do PS, "o presidente do partido, Almeida Santos, controla tudo. Só dá a palavra verdadeiramente a quem quer, corta a palavra, diz que não há tempo..." E, perante a estranheza do entrevistador, que não faz essa ideia de mim, se é que alguém faz, e reage perguntando: "Só fala quem o presidente do PS quer?", a sua resposta foi confirmativa e seca: "Só." E acrescentou, mudando de tema: "As actas, ou são mal feitas, ou não são votadas. E não são votadas porque as actas não correspondem minimamente àquilo que lá se passou."  A confirmar esta estranha afirmação, acrescenta: "Na última reunião houve um dirigente que escreveu uma carta ao Almeida Santos a dizer que as actas estavam erradas e que queria discutir isso. O presidente do partido, nesta última reunião, no domingo, como viu que este dirigente ia falar, disse-lhe que depois falaria com ele no final da reunião para que não se desse um incidente interno." Precisão do jornalista: "Na última reunião da Comissão Nacional?" Resposta: "Sim, o Almeida Santos tem culpas enormes na falta de democraticidade interna do partido." Nova pergunta do jornalista: "O que está a dizer é que há censura nas reuniões da Comissão Nacional?" Resposta do entrevistado: "Sim, há censura. O presidente do PS, com o estatuto que tem, inibe as pessoas de dizerem aquilo que pensam e, mesmo quando dizem, há uma censura imediata. Há um clima de pressão, mesmo não sendo preciso, porque seriam críticas isoladas. Tem sido um processo contínuo de limitação da liberdade interna." Li isto e fiquei banzado! Na verdade, dificilmente o Henrique Neto podia ter sido menos respeitador da verdade, para não usar o qualificativo que neste caso cabe. Como lhe foi possível proferir uma tão óbvia e tão chocante deturpação da verdade? E, já agora, como consegue compatibilizá-la com a personalidade que de si próprio vem tentando construir? Pois dou-lhe as seguintes novidades e fico à espera da sua reacção a elas.  Não sei com que idade o Henrique Neto chegou à defesa da liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa. Eu cheguei aos 18 anos. E nunca, depois disso, deixei de lutar por ela e de defendê--la, nomeadamente no exercício dos muitos cargos políticos que, após Abril, fui chamado a desempenhar. Não aceito, por isso, neste domínio, lições de ninguém, incluindo naturalmente as suas. A prática da Comissão Nacional, antes da minha presidência, e a partir dela, foi sempre esta: pede-se aos membros da Comissão que pretendem usar da palavra que se inscrevam na mesa para esse efeito. A mesa divide o tempo disponível pelo número de inscrições para fixar o tempo a atribuir a cada orador. E nunca ninguém reclamou dessa atribuição. Cabe ao presidente dar a palavra e pedir ao orador que termine a sua oração, quando excede o tempo que lhe foi atribuído. Nunca silenciei ninguém por uso de meios mecânicos, de que aliás não disponho. Permita pois que lhe pergunte: fazer isto é controlar "tudo"? E é eu "só dar a palavra a quem eu quero"? E chamar a atenção quando necessário para que os oradores respeitem o tempo de que dispõem é "cortar a palavra"? Espero que reconheça honestamente, como lhe cumpre, que, actuando como sempre actuei, e como antes de mim se actuou, aliás sem lugar a qualquer reparo dos militantes a esse respeito, fiz o que devia e só o que devia.  Dou-lhe também a informação, que pelos vistos não tem, de que as actas são sempre votadas, e foram sempre aprovadas. Ou o são no início da sessão seguinte, até porque se trata de actas extensas, impossíveis de redigir até ao fim de cada reunião, ou quando é necessário dispor da acta aprovada antes da reunião seguinte, o presidente propõe ao plenário o necessário mandato à mesa para poder aprová-la. Foi isso, aliás, o que aconteceu na última reunião, visto que a acta seria pouco depois necessária para coonestar os actos de preparação do próximo Congresso. Essa é, de resto, uma prática corrente em qualquer tipo de assembleia-geral. O plenário votou o mandato, e a mesa, na altura própria, aprovará a acta.  Diz também que as actas "são mal feitas". É o seu ponto de vista, ou seja, muito provavelmente, a opinião de quem nunca as leu. Para mim e para a mesa o que conta são os votos - que sempre se aproximam da totalidade - dos membros da assembleia que as aprovam. Acha mesmo que as aprovavam, como sempre aprovaram, sem que "correspondessem minimamente àquilo que lá se passou"? Desculpará que eu confie mais no juízo de quem assistiu às assembleias do que de quem, como o Henrique Neto, a elas não assiste. A história em que se baseia, de na última sessão ter havido um dirigente que me escreveu uma carta a dizer que "as actas estavam erradas e que queria discutir isso", sendo que eu, "como vi que o dirigente queria falar, lhe disse que depois falaria com ele no final da reunião para que se não desse ali um incidente interno", é também uma história mal contada e em parte inverídica. É certo que foi dirigida à sede do PS a carta do membro da Comissão Nacional que refere, um ou dois dias antes do dia da reunião. Nesse dia, esse membro telefonou-me para o escritório a referir a carta e a solicitar que ela fosse distribuída por todos os membros da Comissão. Respondi-lhe que, quando no domingo a mesa tomasse conhecimento da carta, decidiria sobre a justificação da distribuição dela. À cautela, dei ordem para que a carta fosse, como foi, reproduzida em número de cópias igual ao dos membros do plenário da Comissão. Mas a mesa, e eu próprio, após a leitura da carta, fomos de parecer que se não justificava a sua distribuição. Dispenso-me de, neste momento e lugar, dizer porquê.  E daí que, quando o titular da carta pediu a palavra, me reservei para, no momento de dar-lha, o que fiz, ter revelado ao plenário que tinha recebido uma carta dele, e ao próprio que, apesar de ter admitido distribuir a carta, foi reconhecido, após a sua leitura, que o seu conteúdo não justificava a distribuição, por razões que prometi comunicar, por escrito, ao signatário dela, sem prejuízo de ele próprio, no uso da palavra, poder, querendo, referir o essencial do seu conteúdo. O que não viria a fazer, atitude em que vi um louvável acto de sensatez. Acha mesmo que mereci o seu reparo? Pois eu acho que geri o incidente como qualquer presidente sensato o teria gerido.  Apesar disso, o Henrique Neto resolveu, sabe-se lá porquê, ver no incidente, que não chegou a sê-lo, mais uma prova de que "o Almeida Santos tem culpas enormes na falta de democraticidade interna do partido". E foi mais longe. Perante esta nova pergunta do jornalista: "O que está a dizer é que há censura nas reuniões da Comissão Nacional?", rematou com aparente convicção: "Sim, há censura. O presidente do PS, com o estatuto que tem, inibe as pessoas de dizerem aquilo que pensam e, mesmo quando dizem, há uma censura imediata. Há um clima de pressão, mesmo não sendo preciso, porque seriam críticas isoladas. Tem sido um processo contínuo de limitações da liberdade interna." Como compreende, o nosso diálogo não pode terminar aqui. Daí que eu lhe peça que satisfaça a minha curiosidade de ficar a saber: - Em que consiste a censura que diz existir nas reuniões da Comissão Nacional? - Havendo, o censor sou eu? - Que meios uso para inibir as pessoas de dizerem aquilo que pensam? - Como exerço eu a "censura imediata" que diz existir relativamente às pessoas que dizem o que pensam?  - Admite ou não, e em caso negativo porquê, que o episódio do militante que me escreveu uma carta, se passou como eu digo e não como o retrata? - Confirma ou infirma, e neste caso porquê, que as actas foram todas votadas e aprovadas como eu digo que foram? - Caracterize ainda, por favor, "o processo contínuo de limitação da liberdade interna" que igualmente refere.  Por último: que "culpas enormes" são as que diz que tenho "na falta de democraticidade interna do partido"? Sendo assim tão grandes não lhe deve ser difícil caracterizá-las.  Espero que reconheça que eu não tenho, nem como homem nem como político, a imagem correspondente às graves acusações que me faz. Estou certo de que não quer sobre si a suspeita de que as fez com plena consciência da sua falsidade. Não pode, com efeito, ter deixado de ter consciência da gravidade de que se revestem. Por isso lhe peço, e antecipadamente agradeço, a satisfação da curiosidade que exprimo nas referidas perguntas.