José Sócrates diz que um chumbo do PEC no Parlamento poderá culminar numa crise política.
Em entrevista à SIC, José Sócrates disse que se a Assembleia da República votar contra o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) estará a dizer ao Governo que "não tem condições para continuar".
"Acho que se a Assembleia da República votar contra o PEC, [não tem de votar a favor], estará a dizer ao Governo que não tem condições de se apresentar numa cimeira europeia para se comprometer internacionalmente", disse o primeiro-ministro, explicando que, na prática, isto quereria dizer que o Governo "não tem condições para continuar. (...) Então terá de ser devolvida a palavra ao povo".
Em resposta às críticas de Pedro Passos Coelho, que acusou o Executivo de "deslealade e falta de respeito pelo País", o primeiro-ministro argumentou que teria sido "desleal" se não se tivesse apresentado em Bruxelas com um novo pacote de austeridade.
"Teria sido desleal ao meu País se não tivesse feito o que fiz. Portugal teria passado um mau pedaço se não nos tivéssemos apresentado na cimeira [de líderes da zona euro] com medidas absolutamente decisivas para Portugal responder à crise financeira internacional", antes da cimeira de 24 e 25 de Março, argumentou o primeiro-ministro.
Sócrates frisou ainda que houve conversações do Governo com a Comissão e o BCE, "mas foi uma conversa porque Portugal não está a negociar as suas decisões". "Não houve uma negociação mas apenas uma avaliação, que a Comissão faz a todos os países que estão em défices excessivos", disse.
José Sócrates argumentou também que aquilo que o Executivo apresentou foram linhas de orientação do PEC, que teria de ser apresentado em Abril, e frisou que existe total disponibilidade para as negociar. "O que apresentamos não foi o nosso PEC, foram as linhas de orientação. Vamos apresentar o nosso plano e estamos disponíveis para negociar todas as medidas", frisou, acrescentando que o Governo não apresentou um novo PEC, apenas antecipou a apresentação que teria de ser feita no próximo mês.
Sócrates também deixou críticas ao principal partido da Oposição, acusando-o de, uma vez que não concorda com as medidas sugeridas pelo Governo, não querer negociar. "O PSD está na situação de aproveitamento político total. Lamento muito a atitude de oposição sem dar nenhuma oportunidade de concessão", afirmou.
"Espero que todos caiam em si", disse ainda o primeiro-ministro, deixando também uma mensagem ao Presidente da República: "Espero que faça aquilo que deve fazer para evitar uma crise política".
Até porque, para o primeiro-ministro, as consequências de uma crise política seriam muitas: "perda de prestigio e influência do mundo", um "abrir a porta à intervenção externa", que conduziria a piores condições quer para o Estado que para os portugueses, nomeadamente cortes mais acentuados nos salários.
Mas José Sócrates garantiu que a sua ambição é outra: "a minha responsabilidade é tudo fazer para evitar uma crise política. Se outros a quiserem provocar terão de assumir as suas responsabilidades", disse.