'Cavaco deve esclarecer BPN sem nos empurrar para o site de Belém'
3 de Janeiro, 2011Texto por Manuel A. Magalhães
O ex-autarca de Viana de Castelo não tem «ilusões» sobre o resultado que obterá nas presidenciais. Entrou nesta missão para promover a regionalização e combater o clientelismo. Por isso chocou-o o silêncio de Cavaco sobre o BPN. «Se tivesse lucros de 145% desconfiava da legalidade do negócio»Defensor Moura continuará a exigir a Cavaco Silva explicações sobre o caso BPN, o tema dominante da campanha, lançado pelo autarca. «Há muito por esclarecer. Infelizmente só nas campanhas eleitorais há quem consiga pôr em causa a forma como o Presidente da República tolerou no Conselho de Estado um representante do BPN [Dias Loureiro] e depois como teve lucros chorudos como accionista».
No início da entrevista na RTP, Defensor explicou que avançou na corrida a Belém, como independente, por «não se resignar com inevitabilidades». Com a de não haver outros candidatos e com a de «eleger o mesmo Presidente, após cinco anos negativos de mandato».
Defensor Moura, que abriu o ciclo de entrevistas estação pública de televisão com os candidatos a Belém, explicava assim que não quisera ser agressivo com Cavaco Silva, no debate entre ambos. Simplesmente, disse, entende que os portugueses têm o direito de obter explicações, quando um banco investigado por fraude tem por administrador uma pessoa da confiança política do Presidente da República, que continou com assento no principal órgão de aconselhamento do PR.
Sobre a posição de Cavaco Silva como accionista da SLN, sociedade proprietária do BPN, Defensor insiste na estranheza de Cavaco Silva, a quem foi proposto a subscrição de acções não cotadas, tenha considerado normal o lucro obtido.
«Espero que alguém que tenha 145 por cento de lucro ponha pelo menos em causa que o negócio não é lícito», disse.
Referindo-se à forma como o PR tem rejeitado esclarecimentos (Cavaco classificou aliás as suspeitas levantadas como «uma campanha suja»), o entrevistado disse a Judite de Sousa:«Alguém que teve alguma coisa com um negoócio ilícito deve responder clararmente às perguntas, sem nos empurrar para o site da Presidência, que é algo diferente do do candidato Cavaco Silva».
O ex-autarca e actual deputado do PS esclareceu que não tem ilusões sobre o resultado da sua votação. «Não vou dizer qual é, mas não vou ficar surpreendido», disse o candidato que aparece em todas as sondagens como último classificado nas intenções de voto. E quase parafraseando Cavaco, rematou: «Não tenho ilusões porque raramente me iludo».
A agenda de Defensor - a defesa da regionalização e o combate à corrupção e ao clientelismo - motivaram-no a avançar. Isso e a convicçao que Manuel Alegre não é o melhor candidato para o seu partido o PS.
Disse-o em reuniões do grupo parlamentar socialista. Nessa altura, um colega de bancada, contou a Judite de Sousa, desafiou-o a avançar. Porque prefere agir «a ficar a pensar toda a vida o que devia ter feito», Defensor optou por se candidatar.
Se a corrupção é um dos temas da sua agenda, Defensor não se alargou na denuncia de casos concretos. No processo Face Oculta, em que existem ramificações da investigação que implicam dirigentes socialistas - o candidato contra-atacou, fazendo do Ministério Público o alvo.
«Não colaboro no processo na praça pública», disse, depois de admitir que não conhece o processo, dando um conselho, com crítica implícita: «A nossa justiça deve ser mais célere e mais recatada». Negou que estivesse em contradição como o seu discurso anti-corrupção e avançou com outra máxima: «Há diferença entre o que é secreto e o que é discreto. Os tribunais têm falta de discrição».
Admitiu que fará uma campanha poupada, até abaixo dos já modestos 250 mil euros orçamentados e criticou os orçamentos dos outros candidatos. «Nem sei como se gasta 2 milhões de euros. Só se for para pagar jantaradas. Comigo nao haverá jantaradas».
As despesas serão «pagas do meu bolso e por amigos», contou. Nesta, como noutras passagens da entrevista, Defensor Moura negou que estivesse isolado no PS. Diz que tem apoios no grupo parlamentar e em Viana do Castelo onde só não ficou mais um mandadato na câmara «por vontade própria», repudiando que tivesse sido o PS a afastá-lo.
Disse que ajudou a eleger o sucessor, aparecendo nos cartazes, ao seu lado. Aos adversários internos, no PS de Viana do Castelo, que o acusam de ser «politicamente intratável», responde como se tratasse de um elogio, dizendo que tem nisso «orgulho».
«Não tolero o caciquismo», disse o candidato, que apesar de ter estado 16 anos à frente da câmara de Viana, não se considera um dinossauro. «Nunca tive maioria na assembleia municipal, o que um verdadeiro dinossauro não falha».
As entrevistas aos candidatos a Belém prosseguem amanhã (21h), na RTP1, com a presença de outro independente e também médico de profissão, Fernando Nobre.
manuel.a.magalhaes@sol.pt
No início da entrevista na RTP, Defensor explicou que avançou na corrida a Belém, como independente, por «não se resignar com inevitabilidades». Com a de não haver outros candidatos e com a de «eleger o mesmo Presidente, após cinco anos negativos de mandato».
Defensor Moura, que abriu o ciclo de entrevistas estação pública de televisão com os candidatos a Belém, explicava assim que não quisera ser agressivo com Cavaco Silva, no debate entre ambos. Simplesmente, disse, entende que os portugueses têm o direito de obter explicações, quando um banco investigado por fraude tem por administrador uma pessoa da confiança política do Presidente da República, que continou com assento no principal órgão de aconselhamento do PR.
Sobre a posição de Cavaco Silva como accionista da SLN, sociedade proprietária do BPN, Defensor insiste na estranheza de Cavaco Silva, a quem foi proposto a subscrição de acções não cotadas, tenha considerado normal o lucro obtido.
«Espero que alguém que tenha 145 por cento de lucro ponha pelo menos em causa que o negócio não é lícito», disse.
Referindo-se à forma como o PR tem rejeitado esclarecimentos (Cavaco classificou aliás as suspeitas levantadas como «uma campanha suja»), o entrevistado disse a Judite de Sousa:«Alguém que teve alguma coisa com um negoócio ilícito deve responder clararmente às perguntas, sem nos empurrar para o site da Presidência, que é algo diferente do do candidato Cavaco Silva».
O ex-autarca e actual deputado do PS esclareceu que não tem ilusões sobre o resultado da sua votação. «Não vou dizer qual é, mas não vou ficar surpreendido», disse o candidato que aparece em todas as sondagens como último classificado nas intenções de voto. E quase parafraseando Cavaco, rematou: «Não tenho ilusões porque raramente me iludo».
A agenda de Defensor - a defesa da regionalização e o combate à corrupção e ao clientelismo - motivaram-no a avançar. Isso e a convicçao que Manuel Alegre não é o melhor candidato para o seu partido o PS.
Disse-o em reuniões do grupo parlamentar socialista. Nessa altura, um colega de bancada, contou a Judite de Sousa, desafiou-o a avançar. Porque prefere agir «a ficar a pensar toda a vida o que devia ter feito», Defensor optou por se candidatar.
Se a corrupção é um dos temas da sua agenda, Defensor não se alargou na denuncia de casos concretos. No processo Face Oculta, em que existem ramificações da investigação que implicam dirigentes socialistas - o candidato contra-atacou, fazendo do Ministério Público o alvo.
«Não colaboro no processo na praça pública», disse, depois de admitir que não conhece o processo, dando um conselho, com crítica implícita: «A nossa justiça deve ser mais célere e mais recatada». Negou que estivesse em contradição como o seu discurso anti-corrupção e avançou com outra máxima: «Há diferença entre o que é secreto e o que é discreto. Os tribunais têm falta de discrição».
Admitiu que fará uma campanha poupada, até abaixo dos já modestos 250 mil euros orçamentados e criticou os orçamentos dos outros candidatos. «Nem sei como se gasta 2 milhões de euros. Só se for para pagar jantaradas. Comigo nao haverá jantaradas».
As despesas serão «pagas do meu bolso e por amigos», contou. Nesta, como noutras passagens da entrevista, Defensor Moura negou que estivesse isolado no PS. Diz que tem apoios no grupo parlamentar e em Viana do Castelo onde só não ficou mais um mandadato na câmara «por vontade própria», repudiando que tivesse sido o PS a afastá-lo.
Disse que ajudou a eleger o sucessor, aparecendo nos cartazes, ao seu lado. Aos adversários internos, no PS de Viana do Castelo, que o acusam de ser «politicamente intratável», responde como se tratasse de um elogio, dizendo que tem nisso «orgulho».
«Não tolero o caciquismo», disse o candidato, que apesar de ter estado 16 anos à frente da câmara de Viana, não se considera um dinossauro. «Nunca tive maioria na assembleia municipal, o que um verdadeiro dinossauro não falha».
As entrevistas aos candidatos a Belém prosseguem amanhã (21h), na RTP1, com a presença de outro independente e também médico de profissão, Fernando Nobre.
manuel.a.magalhaes@sol.pt