'Sócrates resiste, Cavaco atrapalha' - Manuel Alegre14 de Janeiro, 2011Por Susete FranciscoAlegre comenta ao SOL eventual vinda do FMI.Antes de um jantar de campanha em Évora, o candidato apoiado pelo PS e pelo BE mostra-se confiante. «Tenho tido mobilização como nunca tinha tido», diz em entrevista ao SOL. Reclama o mérito de ter «à sua volta» dois partidos quase «inconciliáveis». E após explicações contraditórias, na última semana, sobre a cam-panha de publicidade que fez para o BPP, diz que «há ainda algo que falta esclarecer». Mas não é agora.
O Presidente eleito corre o risco de, quando for empossado, já ter cá o FMI. O que faria nessa situação?
As últimas notícias são no sentido de que o FMI está mais longe. O resultado do leilão da dívida foi muito bom. São boas notícias, são notícias de que a execução orçamental está a acalmar esta ofensiva especulativa.
O cenário do FMI está afastado?
Não, e acho que há muita gente que quer a vinda do FMI. Uns porque estão com impaciência e julgam que assim haverá uma crise política, que podem ir mais depressa para o poder. Outros porque acham que o FMI aplicará aquele programa que certas forças políticas querem mas não têm coragem de apresentar a votos, porque sabem que não passaria.
Está falar de Pedro Passos Coelho? Acha que o líder do PSD quer a vinda do FMI?
Não sei se quer ou não. Ele disse uma vez que estava preparado para governar com o FMI, o que é um pouco surpreendente. O que significa o FMI? Despedimento de milhares de pessoas, diminuição acentuadíssima do salário mínimo, mais cortes nos salários e nas pensões, um agravamento muito grande das condições de vida do povo português.
A entrada do FMI não seria um falhanço do Governo?
Seria um falhanço de toda a gente, sobretudo daqueles que iriam sofrer as consequências, os que iriam ser despedidos, os que veriam o salário cortado. Talvez alguns, aqueles que sonham com o poder todo ou aqueles que querem esvaziar o Estado social, ficassem satisfeitos. Mas esses não são a maioria do povo português.
O Governo poderia manter-se em funções nesse cenário?
Uma das razões por que certas forças e certas pessoas querem o FMI é para atirar o Governo abaixo. Mas acho que esse é um preço muito duro para o povo português e até para aqueles que eventualmente venham a ser Governo. Não têm bem a ideia do que é governar com o FMI ou governar numa situação explosiva do ponto de vista social.
Defendeu na campanha que há alternativas a esta política de austeridade. O Governo tem usado precisamente o argumento contrário.
Estou a falar em termos europeus, as alternativas têm que existir ao nível europeu.
Mas o Governo justificou as medidas de austeridade dizendo precisamente que não há alternativa.
Porque estão encostados à parede, a Espanha, Portugal , a Grécia, a Irlanda. Tendo em conta os compromissos assumidos e as imposições que são feitas, a porta fica muito estreita. Mas admiro a determinação com que José Sócrates está a resistir ao FMI. Independentemente das medidas, admito que às vezes é mais fácil capitular, e ele está a resistir à pressão. O FMI não entra por decisão própria, tem que ser o Estado a pedir o recurso ao fundo de estabilização. Mas esta pressão especulativa é feita para encostar os países à parede e forçá-los a essa decisão.
Na sua opinião está resistir sem a ajuda de Cavaco Silva?
Está a resistir, não só sem a ajuda, mas com Cavaco Silva a atrapalhar.
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Em “relação às contas na Suíça, julgo que o assunto está mais do que esclarecido.
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E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.